Imunizante usado em Camarões contra malária não serve para o Brasil; entenda
Em 2022, país registrou 128 mil casos da doenças, segundo o Ministério da Saúde. Cloroquina pode ser usada no tratamento de alguns tipos de malária
Wagner Lauria Jr.
Começou nesta segunda-feira (22) a primeira campanha de vacinação contra malária no mundo. A adoção foi feita por Camarões e a ação será destinada aos bebês de seis meses de idade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 77% dos óbitos pela doença ocorrem em menores de 5 anos.
Ainda de acordo com a OMS, outros nove países africanos planejam lançar campanhas de imunização contra a doença ainda este ano.
+ Kit da Fiocruz detecta bolsas de sangue com malária
O continente é o que mais sofre com a doença, causada pelo parasita plasmódio, transmitida pela picada do mosquito-prego. O território africano é responsável por aproximadamente 94% dos casos globais e 95% das mortes.
O Brasil, por sua vez, registrou 128 mil casos de malária em 2022, segundo o Ministério da Saúde, mas não planeja incluir o imunizante no calendário de vacinação. No momento, o país apenas veicula campanhas anuais de combate e prevenção contra a doença.
+ Crise Yanomami: Saúde envia mais 12 profissionais da saúde para Roraima
Brasil vai vacinar contra malária?
Segundo o Ministério da Saúde, a maior parte dos casos de malária no Brasil são causados pelo Plasmodium vivax. Mas a vacina introduzida no Camarões, a RTS,S, também conhecida como Mosquirix, foi pensada para o combate ao Plasmodiun falciparum.
De acordo com a Pasta, em 2022, 84,2% (108.594) das notificações da doença foram causadas pelo parasita vivax e 13,9% (17.981) pelo falciparum.
"O perfil epidemiológico da malária no Brasil, assim como o risco de transmissão, são diferentes dos observados na África, onde a doença é quase exclusivamente causada pelo P. falciparum e atinge as crianças, na maioria das vezes, sendo responsável por alta taxa de gravidade e mortalidade.", disse, em nota, o Ministério da Saúde.
Ainda não há previsão de lançamento de uma vacina contra a P. vivax, segundo o Ministério. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável por aprovar a entrada de imunizantes no país, confirmou a informação da Saúde e disse que não recebeu nenhum pedido de registro da Mosquitrix.
Cloroquina pode ser usada no tratamento da malária
A cloroquina, medicamento alvo de polêmicas durante a pandemia, após o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados defenderem o seu uso contra a Covid-19 mesmo sem comprovação científica, pode ser utilizada no tratamento de alguns tipos de malária. Mas a sua recomendação requer orientação médica.
+ Defensoria quer punição de Conselho de Medicina por defesa da cloroquina
+ Ministério admite recuo em nota que diz não à vacina e sim à cloroquina