Escolas particulares devem reajustar mensalidades em quase 10% em 2026
Aumento supera o dobro da inflação acumulada; impacto do custo na renda familiar preocupa

Juliana Tourinho
A mensalidade nas escolas particulares deve sofrer um reajuste médio de quase 10% no próximo ano letivo. O valor é praticamente o dobro da inflação acumulada nos últimos 12 meses e já preocupa as famílias.
Carol Sieiro tem duas filhas e tomou um susto quando recebeu o comunicado da escola onde as meninas estudam. “Eu sei que todo ano tem um pequeno reajuste, mas, assim, 10%, realmente pegou de surpresa”, afirma.
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Até agora, a instituição não ofereceu nenhum desconto para a renovação do contrato. “Vou tentar negociar pra fazer essa matrícula pra não ficar tão pesado pra gente. É muito dinheiro, porque a gente já paga imposto, já paga taxas e taxas em cima de tudo”, completa Carol.
Um levantamento da consultoria Explora Pesquisa, que reúne dados das escolas privadas, mostra que os dois últimos reajustes ficaram acima dos 9%, quase o dobro da inflação oficial acumulada nos períodos. O mesmo deve acontecer em 2026: projeção de alta próxima a 10%, bem acima da inflação estimada em 4,8% e também do índice de gastos com educação dos últimos 12 meses, de 6,07%.
“Na pandemia as escolas tiveram que dar um desconto, de até 25%. Como as escolas deram muito desconto, mesmo tendo um reajuste maior que a inflação, não conseguiram recuperar. Às vezes a gente confunde que tá associado só à inflação, mas não é isso. É inflação mais reajuste dos professores, que quase sempre é maior, e custo de investimento, que é muito alto”, explica Christian Rocha Coelho, CEO do Grupo Rabbit.
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Outro ponto citado no estudo é a margem de lucro das escolas, considerada abaixo da média do setor de serviços, mesmo com os últimos aumentos. Pela lei, as instituições precisam comunicar os responsáveis com ao menos 45 dias de antecedência, para que as famílias consigam se organizar.
Inadimplência preocupa
Entre janeiro e agosto, a inadimplência no setor variou entre 4,8% e 5,4%, e a expectativa é de encerrar o ano em 5%. Para aliviar o impacto, algumas escolas têm adotado medidas próprias.
Na Grande São Paulo, por exemplo, um colégio optou por reajustar apenas 6,5% e passou a oferecer descontos de até 50% na rematrícula.
“Ajuda porque encaixa no orçamento familiar. Se não oferecer os descontos, as famílias não têm mais condição de manter as crianças dentro de uma escola particular. E sem isso, não conseguimos manter o pagamento de professores e de toda a equipe dedicada”, explica o administrador Ricardo Lavigne Futuro.
A estratégia já fez diferença para famílias como a da dona Carmen Tatibana, avó de aluna. “A gente sempre consegue negociar, parcelar o material. E pra gente a prioridade é sempre a educação, então, a gente se esforça pra conseguir pagar.”