Equipe de polo aquático do Sesi-SP abandona final após caso de racismo em Buenos Aires
Jogador brasileiro foi alvo de insultos racistas; clube decidiu deixar a competição em protesto

SBT Brasil
A equipe de polo aquático do Sesi São Paulo abandonou a final da Super Liga Sul-Americana da modalidade, em Buenos Aires, depois que um de seus atletas foi alvo de racismo.
O caso aconteceu no último fim de semana, durante a semifinal contra o time argentino Gymnasia y Esgrima. Um jogador adversário usou expressões racistas para ofender um atleta brasileiro e a mãe dele. A cena foi presenciada por todos durante a partida, que o Sesi vencia até então.
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A denúncia foi feita imediatamente, mas a equipe decidiu deixar a competição. “Nenhum título é mais importante do que ensinar que racismo é crime e machuca”, afirmou o clube em nota. O atleta ofendido recebeu atendimento psicológico oferecido pela instituição.
A punição ao jogador argentino foi apenas a suspensão da partida seguinte — que não ocorreu, já que o time dele havia sido eliminado pelo Sesi. O gerente de Esporte e Lazer do Sesi-SP, André Avallone, criticou a postura da organização.
“Eles demoraram para responder às ofensas, assumir a responsabilidade e relatar que foi um caso de racismo. Em nenhum momento citaram a palavra racismo, mesmo tendo presenciado tudo isso.”
No mesmo fim de semana, outro episódio de racismo também envolveu o Sesi, mas desta vez o clube não foi a vítima. Em Franca, no interior de São Paulo, torcedores da equipe de basquete ofenderam dois jogadores do Corinthians com gritos discriminatórios.
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A resposta foi imediata. “Fomos à delegacia, registramos boletim de ocorrência e ajudamos em toda a investigação. Um dos envolvidos era sócio-torcedor e já foi banido do Sesi. É preciso ser muito duro para que isso não aconteça novamente”, contou Avallone.
De acordo com o Observatório da Discriminação Racial no Futebol, só em 2025 já foram registradas 93 ocorrências de racismo em competições esportivas, sendo 16 delas em torneios da Conmebol. Para o diretor Marcelo Carvalho, as denúncias refletem maior consciência das vítimas, mas também revelam outro cenário:
“A sensação é de que as pessoas estão perdendo o medo de serem racistas, machistas e homofóbicas. E isso tem acontecido em todos os lugares, inclusive nas arenas esportivas.”
No Brasil, a chamada Lei Vini Jr. obriga a suspensão imediata de partidas em casos de racismo. A norma homenageia o atacante brasileiro do Real Madrid, que já foi alvo repetidas vezes em estádios. Mesmo assim, especialistas avaliam que a medida ainda não é suficiente.
“Esse tipo de racismo perpetua a discriminação na sociedade brasileira. A brincadeira termina em violência. É importante fazer a ligação entre o racismo recreativo e o genocídio da juventude negra no Brasil. Essa violência não acaba na piada, mas na morte e na naturalização da morte de pessoas negras”, explica Carvalho sobre o chamado "racismo recreativo”.