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"Enchente não trouxe só a perda da escola": secretária lamenta impacto no Rio Grande do Sul

Chuvas afetaram 394 mil estudantes e, mais de um mês após situação, 60 mil não voltaram às aulas presenciais; especialista alerta para etapa de transição

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Uma mudança de realidade, com impactos que se estendem à educação. Pouco mais de 40 dias da tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul, o cenário ainda está indefinido para milhares de estudantes. O governo gaúcho estima que as enchentes afetaram mais de 394 mil alunos e, até o fim desta semana, 60 mil deles ainda não haviam retomado aulas de forma presencial.

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Em meio às alternativas, que passam pelo ensino remoto, mais de 35 mil estudantes não retomaram atividades escolares, em uma situação delicada frente às perdas enfrentadas pelos próprios alunos e comunidade escolar. A secretária de Educação, Raquel Teixeira, expõe a situação enfrentada pelos docentes, com avaliação de que o cenário atual supera os desafios enfrentados pelo período da pandemia de covid-19.

“Tenho escolas aqui no Rio Grande do Sul em que 100% de professores e funcionários perderam as suas casas. O que essa enchente trouxe não foi só perda da escola, foi perda física e material das casas. E é muito duro para esses professores, como uma delas me dizia: ‘Tudo que eu ganhei na vida foi para comprar essa casa. Perdi a casa, perdi os móveis mas o pior, eu perdi minhas fotos. Eu não tenho mais fotos da minha mãe, do meu pai, dos meus filhos quando eram crianças. Eu não perdi uma casa, eu perdi a minha vida”, conta.

Em relação à pandemia, que trouxe impactos educacionais em todo o país, a secretária destaca a possibilidade de um maior acompanhamento e contato - mesmo remoto - com estudantes: “Na covid os alunos e os professores não vinham à escola, mas eu sabia onde eles estavam. Estavam trancados em suas casas. Agora, alunos e professores não vêm à escola e eu não sei onde eles estão”.

As chuvas provocaram uma perda de informações dos estudantes, como detalhes dos registros e o histórico escolar. O balanço do governo aponta que 577 escolas foram afetadas desde o início das enchentes e, até a divulgação mais recente do executivo gaúcho, 24 colégios serviam de abrigo. Por outro lado, o monitoramento feito pela própria secretaria de educação calculava a interrupção de aulas em 83 escolas em todo o Rio Grande do Sul.

Além do desafio da própria reconstrução, Teixeira aponta uma necessidade específica no cuidado na retomada escolar. “É muito importante que a gente traga esses estudantes, que os acolha, mas igualmente importante é trazer os professores, trazer os funcionários e acolhê-los também para ter uma escola. A escola não é só o prédio e a reforma do prédio. Talvez a reforma seja até a parte mais fácil. Mas a escola é o conjunto do prédio, dos equipamentos e principalmente das pessoas, que dão aquele espírito de inspiração, de vivacidade, de convivência, de crescimento. É um desafio muito grande”, diz.

A necessidade de cuidado com a comunidade escolar também é destacada pela professora Catarina de Almeida Santos, da Universidade de Brasília, em avaliação que passa pela necessidade de adequação do ensino às mudanças pelas quais os alunos e a equipe educacional se encontram.

“Não pode ser a escola de antes, porque não somos as mesmas pessoas de antes. A gente está falando de cidades que vão ter que ser reconstruídas em outros lugares e as pessoas passaram por isso. A escola, essa educação, precisa ser repensada de como estão as pessoas para entender. Olhar para os sujeitos de forma para as múltiplas necessidades e olhar para as questões ambientais e questões sociais. Tudo que estamos vivenciando e o que a comunidade vivenciou”, pondera.

Prejuízos aos mais pobres

A pesquisadora do Departamento de Políticas Públicas e Gestão da Educação também destaca que as etapas da retomada passam pelas urgências ligadas à própria sobrevivência, com avaliação de que é necessário levar em conta as questões sociais ao se desenhar a retomada educacional. O calendário do ano foi flexibilizado pelo Ministério da Educação e a previsão do governo gaúcho é de que o ano letivo seja concluído em 2025.

“Nunca numa sociedade desigual os impactos de uma tragédia como essa vão ser iguais entre pobres e ricos. Nada vai ser igual. E aí é papel do poder público. Com as escolas sendo reconstruídas, é óbvio que estudantes mais pobres vão ter muito mais prejuízos”, avalia.

Como forma de resposta, Santos aponta a necessidade em atenção à aprendizagem, em composição de turmas menores e uma maior atenção a cada estudante. “Quanto mais o poder público se empenhar em garantir as melhores condições, melhores serão os aprendizados do aluno”, conclui.

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