Exclusivo: empresa é investigada por fraude em pesquisas eleitorais em São Paulo
Empresários afirmam que tiveram dados usados como contratantes de pesquisas. Instituto Quality é acusado de fraude e manipulação de resultados
Uma investigação exclusiva do SBT Brasil revelou que uma empresa é suspeita de fraudar pesquisas eleitorais para beneficiar candidatos, forjando contratantes para registrar os levantamentos na Justiça Eleitoral. Empresários de São Paulo descobriram que os nomes e os dados deles foram usados indevidamente nas notas fiscais dessas pesquisas.
Marcelo Vrejhi, responsável por um jornal em Osasco, na Grande São Paulo, afirmou que foi usado em uma possível fraude eleitoral. Ele nunca contratou o instituto Quality, mas descobriu que seu nome foi vinculado a 15 notas fiscais em 13 cidades diferentes do estado.
"Não conheço, nunca contratei nenhuma pesquisa com esse instituto chamado Quality", disse Marcelo.
A fraude se tornou evidente quando Marcelo, que anteriormente havia contratado uma pesquisa com outro instituto, o Vitória, identificou que o proprietário do Quality era o mesmo responsável pelo Vitória.
"Tempos depois, eu fui entender que essa empresa que registrou várias pesquisas no nome da minha empresa tem como proprietário o mesmo dono desse instituto chamado Vitória", completou.
Além disso, o endereço da empresa de Marcelo foi alterado nas notas fiscais, aparecendo sempre como localizado em Santos, no litoral de São Paulo, uma cidade em que ele não possui nenhuma ligação.
"Eu não tenho nada com Santos, nunca tivemos endereço lá, não faço ideia do que seja esse endereço", declarou.
Outro empresário que acabou envolvido é Raoni Zambi, jornalista de Paulínia, interior de São Paulo, que também viu o nome de sua empresa em notas fiscais da Quality. Ele relatou que foi surpreendido por pessoas que perguntaram sobre pesquisas que ele nunca contratou.
"Foi uma surpresa quando eu descobri que meu nome estava no site do TSE como contratante dessas pesquisas", disse Raoni.
Diante das suspeitas, o Ministério Público Eleitoral entrou no caso. O promotor Alfredo Portes apontou indícios de falsidade ideológica, afirmando que a empresa inseriu declarações falsas nas notas fiscais e utilizou documentos adulterados para registrar as pesquisas.
Além das fraudes nas notas fiscais, a empresa Quality também é acusada de manipulação de resultados. Em Buritama, no interior de São Paulo, a Justiça Eleitoral proibiu a divulgação de uma pesquisa por não cumprir os requisitos legais.
Mensagens obtidas pela reportagem revelaram que a empresa cobrava valores altos pelos serviços: R$ 55 mil por pesquisa, R$ 180 mil pelo serviço completo durante a campanha, e até R$ 360 mil por um "prêmio" em caso de vitória do candidato.
"A legislação eleitoral permite até que a empresa autofinancie sua pesquisa, o que é estranho, porque se a empresa depende de vender pesquisas para sobreviver, como ela registra tantas pesquisas autofinanciadas?", questionou o advogado eleitoral Arthur Rollo.
Nossa equipe tentou contato com Araújo Júnior, responsável pela Quality. Inicialmente, a ligação foi atendida, mas ninguém respondeu. Em seguida, as chamadas foram bloqueadas.
Mais tarde, a empresa se pronunciou em nota.
O que diz a Quality
A empresa Quality informou que "trabalha dentro dos mais rígidos padrões de qualidade". "Quando uma pesquisa, por um motivo ou outro, foge destes padrões, ela é imediatamente cancelada e jamais publicada", diz a nota.
A Quality indicou que as denúncias partem de candidatos que não aparecem bem nas pesquisas. "Por se tratar de disputas políticas, sempre existem aqueles que, por não concordarem com os números, escolhem por denegrir (sic) a empresa de pesquisa."