Deolane mantém casa de apostas ativa enquanto é investigada por lavagem com jogos ilegais; "ZeroUmBet" é divulgada no Telegram
SBT News acessou a "ZeroUmBET" e entrou no grupo de Telegram da advogada; especialista defende suspensão da plataforma
Derick Toda
Aguardando ser solta após prisão por lavagem de dinheiro por meio de jogos ilegais, a influenciadora Deolane Bezerra tem cinco empresas registradas no próprio nome, sendo uma delas, a "ZeroUmBet", uma plataforma em atividade de jogos de azar e apostas, segundo registro da Receita Federal.
O site da advogada e empresária hospeda desde as apostas esportivas, conhecidas como bets, regularizadas no país, aos jogos do Tigrinho, Aviãozinho, Coelho e outros considerados caça-níqueis online, que são proibidos no Brasil.
+Justiça manda soltar Deolane Bezerra
Mesmo não representando mais Deolane juridicamente, o e-mail cadastrado da empresa na Receita Federal ainda é o da advogada Adelia Soares, indiciada por falsidade ideológica e associação criminosa pela exploração de jogos de azar. Fundada em julho, em menos de três meses a empresa tem capital social de R$ 30 milhões.
O SBT News acessou a "ZeroUmBet", que tem uma sessão de destaque dos jogos "Escolhidos da Doutora", entrou no grupo do Telegram de Deolane Bezerra e entrevistou especialistas do direito penal e criminologia, que avaliaram se a empresa deveria ter sido suspensa por uma ordem Judicial.
"Escolhidos da DRA"
Na sessão de "Escolhidos da Doutora", os três jogos em destaque são o do "Tigrinho", do "Coelho" e do "Dragão".
O advogado Eduardo Maurício, doutor em Direito pela Universidade de Salamanca, na Espanha, explica que nenhum desses jogos conta com representantes no Brasil, o "que dificulta o controle, auditorias, compliance e, até mesmo, o combate, prevenção e punição dos crimes".
Para o especialista, a plataforma ativa para os usuários fere o princípio da legalidade, uma vez que "pode trazer a sensação de continuidade criminosa da mesma natureza que a influencer é investigada", sendo a lavagem dinheiro por meio de jogos ilegais.
"No ponto de vista técnico jurídico, deveria ter sido expedida uma ordem judicial suspendendo a atividade da empresa, tendo em vista a natureza dos supostos delitos serem a mesma, jogos ilegais e de azar, lavagem de dinheiro e outros crimes aplicáveis ao caso em concreto", afirma Eduardo Maurício.
Milhões em premiação
De acordo com a plataforma de apostas de Deolane, apenas nesta segunda-feira (23), a empresa teria pago para os usuários mais de R$ 18 milhões em premiações. Apenas o Jogo do Tigrinho teria pago quase R$ 7 milhões.
Na visão do especialista, a prática, sem comprovação financeira das recompensas, "induz [o usuário] no fato de poder ganhar dinheiro com base na sorte em um site que passa uma imagem de segurança e confiabilidade".
Somente essa ação poderia estar relacionada aos delitos "contra o consumidor, contra a economia popular, propaganda enganosa, sonegação fiscal e estelionato", diz Eduardo Maurício.
Doutor pela PUC-Rio e professor de Direito pela FGV, Thiago Bottino afirma que, normalmente, as práticas de lavagem de dinheiro "se destacam por fazer a atividade criminosa, que é pegar um dinheiro de origem ilícito e dar uma aparência de origem lícita, misturando-as com atividades legais".
Grupo telegram e a "fézinha"
O SBT News teve acesso a um grupo de divulgação da plataforma da "ZeroUmBet", no Telegram. Nele, mais de 120 mil pessoas recebem supostas premiações, promoções, além da opção de concorrerem em rifas, o que é ilegal no país, com exceção para organizações beneficentes.
No grupo, o último vídeo publicado de Deolane, antes de ser presa, foi no dia 24 de junho, quando sorteou supostamente uma moto para os seguidores. Além disso, no mesmo dia, a influenciadora teria sorteado a premiação de R$ 1 milhão e um dia especial com ela para quem comprasse uma rifa no preço de R$0,99.
"Tem que fazer uma fézinha. Só ganha quem compra", promete a influenciador
Veja:
"Banca só fica rica e a gente pobre"
Com menos de três meses de funcionamento, a plataforma de apostas da Deolane coleciona mais de 1.000 queixas, de acordo com o Reclame Aqui.
Há relatos de pessoas espalhadas por todo o país, desde o que depositou R$ 900 no site para apostar, mas o dinheiro não chegou nem na conta para jogar aos que supostamente ganham e não conseguem sacar a premiação.
Veja:
Procurados
O SBT News questionou a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco sobre um possível pedido de ordem judicial, mas não teve resposta. Além da pasta, houve um pedido de posicionamento para a defesa de Deolane, que não respondeu.
O espaço segue aberto e a reportagem será atualizada.