CACs de Goiás importavam milhares de munições dos EUA, mas declaravam carga como "mudança"
PF deflagra, com agência norte-americana, operação Golden Gate, mirando esquema de tráfico de munição
Ricardo Brandt
Um esquema que pode ter colocado no Brasil milhares de munições para armas compradas nos Estados Unidos, de forma legal, mas importadas fraudulentamente, por pessoas com registros de CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador) de Goiás, foi alvo da Polícia Federal e de duas agências dos Estados Unidos, nesta quinta-feira (29).
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A Operação Golden Gate, de combate ao tráfico internacional de munições para o Brasil, cumpre sete mandados de busca e apreensão em Goiânia (GO) e Trindade (GO) e um de busca e uma prisão em São Francisco, na Califórnia (EUA).
O esquema envolvia a compra de munições nos EUA, com nota fiscal, de forma legal, em nome de moradores de Goiás. As caixas de munição eram despachadas para o Brasil em contêineres de navios.
"Apesar de terem sido adquiridas legalmente no exterior, as munições foram enviadas de forma clandestina ao Brasil, em contêineres com conteúdo autodeclarado como 'mudança de pessoa física', sem a prévia autorização do Exército Brasileiro e sem comunicação do transporte às autoridades norte-americanas e brasileiras", informou a PF de Goiás, em nota.
No Brasil, as munições são produtos controlados pelo Exército Brasileiro (EB) e pela PF.
A importação tem que ter autorização oficial do EB, o que não era feito. Para sair dos EUA, também deveriam ter sido declaradas.
Falsa mudança
As investigações da PF e das autoridades norte-americanas começaram em 2021, depois que a Receita Federal abriu, durante fiscalizações no Porto de Santos (SP), um contêiner destinado a um desses moradores de Goiânia, onde deveriam estar guardados os itens de "mudança de pessoa física", como declarado pelo importador.
Os fiscais da Receita tiveram uma surpresa ao abrir o caixote de metal, que havia atravessado o oceano, vindo dos EUA. Havia "mais de 12 mil munições de uso restrito". As munições compradas na Califórnia tinham as notas fiscais de compra, emitidas em nome dos CACs de Goiás.
Cruzando dados das compras e importações similares, a PF, a Agência de Investigações de Segurança Interna (Homeland Security Investigations) e a Agência de Aduanas e Proteção de Fronteiras (Customs and Border Protection - CBP) descobriram que o esquema era bem maior.
"A partir dessa apreensão, a PF e a HSI identificaram dezenas de outros contêineres, provenientes dos Estados Unidos, também destinados a moradores de Goiás, que adotaram o mesmo padrão de remessa nos meses seguintes", informou a PF.
Policiais estão nas ruas desde às 6h, em Goiás, onde cumprem mandados de busca e apreensão nas casas dos alvos que contratavam os contêineres para a importação e os compradores das munições que aparecem nas notas emitidas nos Estados Unidos.
Um brasileiro foi preso em São Francisco. Foram feitas também buscas e apreensões. O alvo era o "responsável pela logística de remessa dos contêineres com munições, dos Estados Unidos para o Brasil".
Registros cassados
Segundo a PF, os alvos da Golden Gate são CACs "na modalidade atirador desportivo" e tiveram seus registros suspensos no Exército. Foram também apreendidas as armas e as munições.
Os crimes investigados são de organização criminosa e de tráfico internacional de munições.
Além de PF e de agências norte-americanas, a operação teve apoio do Exército e da Força-Tarefa Internacional de Combate ao Tráfico de Armas e Munições (Ficta).