Arquiteto de 35 anos passa por transplante multivisceral raro após 4 anos de espera em SP
Procedimento substituiu intestino, estômago, fígado, pâncreas e rim em cirurgia de alta complexidade
Vinícius Rangel
Uma ligação aguardada por quatro anos mudou a vida do arquiteto Luiz Henrique, de 35 anos. Ele foi chamado ao hospital após a confirmação de um doador compatível para um dos procedimentos mais raros da medicina: o transplante multivisceral, que substitui vários órgãos simultaneamente.
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Luiz enfrentava uma doença rara de coagulação do sangue, a trombofilia, que provoca a formação excessiva de coágulos. As primeiras tromboses surgiram em 2009 e, com o tempo, atingiram a veia porta, responsável por levar sangue ao sistema digestivo. A partir daí, os órgãos começaram a falhar. Em 2021, chegou a pesar apenas 34 quilos, mas conseguiu recuperar forças e se preparar para a cirurgia.
O desafio médico era substituir intestino, estômago, fígado, pâncreas e rim, todos vindos de um único doador — condição que aumenta as chances de sucesso e reduz os riscos de rejeição. Segundo o professor André Ibrahim, especialista em técnica operatória da Unifesp, a cirurgia pode durar de 10 a 12 horas e exige um doador jovem, em boas condições clínicas e com pouco tempo de internação em UTI.
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A operação foi realizada nesta terça-feira(26) em um hospital particular.
“Os órgãos, idealmente, precisam ser reaproveitados em até 8 horas. É uma corrida contra o tempo. Nesse caso, era um paciente muito doente, com falência do intestino e do fígado, o que torna o manejo ainda mais crítico”, explicou o médico.
Até fevereiro deste ano, o transplante multivisceral não era custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Com a publicação de uma nova portaria, passou a integrar a lista de procedimentos da rede pública, reforçando o protagonismo do Brasil na área.
Segundo especialistas, quase 20 transplantes multiviscerais já foram realizados no país nos últimos 15 anos. A expectativa é de que, com a regulamentação pelo SUS, a frequência aumente.