Festa Literária Internacional de Paraty vai até este domingo no RJ
O maior festival do gênero no país promove 20 mesas de debate com escritores nacionais e estrangeiros
SBT News
Até este domingo (26.nov), Paraty, no litoral sul do Rio de Janeiro, pode ser chamada de capital literária do Brasil. A cidade recebe a 21ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), este ano com destaque para as obras das mulheres na literatura.
+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
Erguida à beira-mar, a antiga vila colonial que parece ter parado no tempo foi um porto de onde partia o ouro brasileiro para a Europa. Trezentos anos depois, a cidade exporta outra riqueza: a cultura de uma nação traduzida em palavras. Tem até pé de livro na praça.
"Ler incentiva o raciocínio", diz o menino Bento Albuquerque Soares, de 10 anos. Ainda nas palavras dele, "às vezes, te distrai quando você está num tempo ruim. É bem legal".
Rimas e poesia estão pelas vielas estreitas com calçamento de pedras. Jovens talentos e nomes consagrados dividem o mesmo espaço. "Para a gente, é muito importante estar aqui circulando e conhecendo outros escritores, estar fazendo essa troca. A gente vem num 'corre' independente também, com os nossos livros", falou uma poetisa.
Também de acordo com ela, "a cidade é uma cidade com muita desigualdade histórica". "Uma cidade onde eu, como pessoa negra, sinto uma discrepância nas narrativas, mas a gente está aqui também para recontar a nossa história e contar a história do jeito que ela deve ser contada".
O maior festival do gênero no país promove 20 mesas de debate com escritores nacionais e estrangeiros até domingo. A cidade, segundo polo turístico do Rio de Janeiro, deve lucrar R$ 9 milhões com o evento, que atrai milhares de visitantes.
"Muito legal a gente ver os escritores passando. Às vezes, a gente reconhece; às vezes a gente sabe quem é. Eu acho que é contagiante, é muito lúdico até", disse a artista visual Fernanda Soares.
Segundo a estudante Giovana Neves Barbosa, "você conhece muitos autores novos, histórias diferentes, tipos de literatura".
Quem mora em Paraty costuma dizer que a cidade chega a concentrar as quatro estações em apenas um dia. Da manhã à tarde, chove, faz sol, frio, calor. Exatamente como um romance com suas nuances e reviravoltas. Na cidade, os rumos da literatura brasileira podem mudar a cada ano. E foi o que aconteceu na 21ª edição da Flip.
Este ano, a Flip consagrou a participação feminina na literatura. Dos 38 autores convidados, 28 são mulheres, como a cearense Socorro Aciolli, criadora de sucessos, como A Cabeça do Santo.
"É um movimento justo pra gente entender melhor o Brasil. Acho que várias vozes ficaram muito tempo caladas, adormecidas", fala a escritora. De acordo com ela, "ser uma cidade colonial que faz a gente voltar para o passado é uma ponte excelente para a gente ouvir esses novos autores, novas vozes e entender o que nós somos no presente e pensar num Brasil melhor para futuro".
Musa do modernismo, Patrícia Galvão -- mais conhecida como Pagu -- é a grande homenageada. Jornalista, poetisa, militante, feminista. Uma mulher à frente de seu tempo que simboliza os novos ares dessa festa.
"A gente olha para o passado e percebe muitos processos de descredibilização da arte das mulheres e também o apagamento sistemático do trabalho dessas autoras. Muitas vezes, não aparecem nos registros, não são localizadas nos acervos de bibliotecas, nos catálogos das editoras aparecem em menor número", diz Fernanda Bastos, curadora da Flip. Dessa forma, ressalta, a edição da festa configura "um processo que passa por empoderamento, mas também com reconhecimento de um trabalho que vem sendo feito pelas mulheres".
E se for pra recontar essa história desde o início, é preciso resgatar os primeiros personagens de Paraty e do Brasil: os indígenas. Como a escritora Eliana Potiguara, que registrou em páginas a sabedoria ancestral do seu povo.