Caso Marielle: investigação da PF expõe condução e falta de respostas da Polícia Civil do Rio
Relatório da Polícia Federal aponta que omissões da polícia estadual colocaram "limites intransponíveis" para a resolução do caso
Relatório elaborado pela Policia Federal (PF) aponta percalços enfrentados pelos investigadores ao asssumirem a investigação do caso do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
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Em fevereiro deste ano, o ministro da Justiça, Flávio Dino, determinou a abertura de novas investigações, desta vez encabeçadas pela PF, com o apoio do Ministério Público do Rio de Janeiro e do próprio Ministro da Justiça.
Até então, o inquérito era tocado pela Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, que promoveu uma sequência de trocas no comando das apurações. Desde 2018, foram cinco delegacias diferentes designadas para o caso.
Esses cinco anos teriam colocado "limites intransponíveis" para a resolução do caso. O documento diz que os obstáculos enfrentados pelos agentes para esclarecer o assassinato não existiriam se os investigadores passados tivessem tomado as medidas corretas.
Entre as dificuldades, a Polícia Federal cita:
- a falta de registros telefônicos dos suspeitos do crime;
- ausência de imagens do entorno de onde aconteceu o assassinato;
- prazos já expirados de 5 anos (no qual as concessionárias são obrigadas a armazenar registros) para conseguir informações importantes, como registros de chamadas, históricos de navegação online e imagens de câmeras de segurança.
"Tais amarras temporais impõem à equipe de investigação limites intransponíveis que seriam supridas caso fossem adotadas as providências necessárias em momento contemporâneo aos fatos", diz o documento.
Um dos obstáculos citado pela Polícia Civil, a falta de imagens de segurança do entorno de onde aconteceu o assassinato poderiam, segundo o relatório, mostrar os assassinos Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz no local do crime.
A corporação cita, também no texto, que as imagens das câmeras de segurança do antigo Centro de Convenções Sulamérica, ao lado de onde Marielle e Anderson foram mortos, nem sequer foram solicitadas oficialmente pela Polícia Civil. A empresa informou que houve apenas uma visita informal e que as gravações não existem mais.
"O vigilante local recebeu um policial civil na época, o mesmo portava somente sua documentação funcional e veio em uma viatura caracterizada da civil. Não nos foi passada nenhuma documentação formal de pedido de gravação. O policial seguiu até a sala de monitoramento e pediu para fotografar com seu próprio celular um de nossos monitores", disse a empresa à Polícia Federal.
Segundo a delação de Élcio, ele e Ronnie passaram em frente ao Centro de Convenções logo após o crime.
Ainda na colaboração, Élcio afirmou que a arma usada por Ronnie para matar Marielle foi extraviada de um incêndio ocorrido no Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), onde o policial reformado já tinha sido lotado. O delator, no entanto, não soube precisar quando foi incêndio.
À corporação, a Polícia Militar do Rio confirmou que houve dois incêndios no batalhão, em 1982 e 1984, mas não foi possível comprovar a origem da arma segundo a versão de Élcio. Isso porque um alagamento fez com que documentos do Bope fossem perdidos.