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Personagens de junho: Gilberto Carvalho, ministro do governo Dilma

Ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência em 2013 fala sobre reação do governo federal aos protestos

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arte com escrita Atos de Junho: 10 anos depois
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Os protestos de junho de 2013, que começaram com uma reivindicação do Movimento Passe Livre (MPL) contra o aumento na tarifa do transporte público -- e, portanto, direcionavam suas cobranças à prefeitura e ao governo de São Paulo --, não demoraram muito para alcançar, também, a sede do poder no país: Brasília.

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Na capital federal, inicialmente, as vozes que vinham das ruas eram consideradas pelo então governo de Dilma Rousseff (PT) como o ápice do processo democrático. É o que conta o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência em 2013, Gilberto Carvalho, um dos homens mais próximos da presidente.

"Quando ocorrem as primeiras manifestações em São Paulo, nós entendemos que elas eram legítimas, porque a gente até reconhecia que o próprio fato de termos inserido mais gente no consumo, os 40 milhões e tal, tinha provocado um estresse na cidade. Era muito mais gente circulando, muito mais gente com carro, muito mais gente precisando se deslocar nas cidades. E nós não tínhamos conseguido fazer uma política efetiva de valorização do transporte coletivo, de investimentos em infraestrutura urbana pesado no país", afirma Carvalho.

Confirmando que o governo federal foi surpreendido com os protestos, Gilberto relembra a reunião feita por Dilma com integrantes do MPL, em Brasília, em 24 de junho. A conversa, que aconteceu 18 dias após o primeiro Grande Ato na Avenida Paulista (no dia 6 de junho), e resultou no anúncio dos "cinco pactos nacionais" em favor do país, demorou. "As ruas já estavam tomadas por uma outra manifestação. A pauta era completamente outra. A pauta era o início de um processo de contestação do nosso projeto", constata o conselheiro e interlocutor de Dilma com movimentos sociais. Ele completa:

"Só depois de alguns meses é que foi ficando muito claro para nós que havia por trás daquela daquelas mobilizações, como eu insisto em dizer, legítimas inicialmente, toda uma carga [...] Uma indução para a mudança de pauta. A mudança de pauta foi qual? Foi a pauta moral. Foi a pauta da corrupção, que agrada muito à classe média" - Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência em 2013.

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Reunião de Dilma com integrantes do MPL. Na foto, Gilberto Carvalho está à esquerda da presidente | Antônio Cruz/Agência Brasil

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Consequências: o "ovo da serpente"

Gilberto Carvalho acredita que foi a partir dessa mudança de pauta que o país passou a viver mudanças drásticas em sua política. A consequência final desse processo, segundo ele, foi o surgimento do bolsonarismo.

"Ali estava colocado o ovo de uma serpente. Dentro desse ovo, dessa serpente, havia nitidamente já desenhados os valores que no processo de amadurecimento vieram dar no bolsonarismo [...] A contestação que o Aécio faz da eleição, em 2015, todo o movimento de tentar não permitir a realização da Copa do Mundo... Todo esse processo, ele trazia dentro de si a semente disso que veio dar depois. É preciso tirar as consequências", declara ele.

A "propaganda negativa" do governo Dilma Rousseff estava posta. E foi assim que, para Carvalho, os setores populares -- onde estavam os mais beneficiados pelas políticas de distribuição de renda dos mandatos petistas -- ficaram contra a presidente, apoiando o processo de impeachment sofrido por ela em 2016.

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Aprendizado

"Toda conquista material que um governo proporciona, necessariamente, tem que vir acompanhada de um amplo processo de educação popular de cultura de paz, de cultura de fraternidade, solidariedade e de comunicação popular". Esse, para Carvalho, é o principal aprendizado que os protestos de junho de 2013 deixaram para o Partido dos Trabalhadores (PT) e para a esquerda em geral.

O governo, segundo ele, precisa ser "pedagogo". E essa herança deve ser levada em consideração pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleito em 2022 para retornar em um terceiro mandato. Sem base popular consciente, que sustente o projeto da esquerda, os governos estão fadados a sofrer novos fracassos.

"Acho que a grande lição, para mim, de junho em 2013 é o seguinte: alto lá, vamos conversar com o povo, vamos ampliar o processo de conscientização, de organização popular em defesa das maiorias. Essa é a palavra de ordem fundamental", destaca Gilberto.

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