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Brasil

Personagens de junho: Mayara Vivian, integrante do Passe Livre

Um dos rostos mais conhecidos do MPL em 2013, geógrafa defende o legado dos protestos

Imagem da noticia Personagens de junho: Mayara Vivian, integrante do Passe Livre
arte com escrita Atos de Junho: 10 anos depois
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Feliz 2013! #VaiTerLuta. A mensagem, junto com uma foto do então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), e o governador do estado, Geraldo Alckmin (na época no PSDB), foi compartilhada no final de 2012, nas redes sociais, por um movimento criado sete anos antes para lutar por um transporte público gratuito em todo o país: o Movimento Passe Livre.

O reajuste no valor da passagem, que passaria de R$ 3,00 para R$ 3,20, foi anunciado para o dia 2 de junho. Ele havia sido adiado, no início do ano, a pedido do governo federal, com o objetivo de segurar a inflação. Os protestos contra o aumento começaram ainda em maio, inicialmente nas regiões mais periféricas da capital paulista. Era um conjunto de ações para divulgar o que eles chamavam de Grande Ato, convocado para acontecer em 6 de junho, em frente ao Theatro Municipal, no centro da cidade. Aí começaram os ciclos de protestos que mudaram o país.

Sem líderes, já que o grupo se denomina horizontal -- onde todos os envolvidos têm poder de decisão --, integrantes do MPL foram se destacando por tomarem a frente nas negociações com a Polícia Militar e por serem porta-vozes do movimento em entrevistas para a imprensa. Entre esses rostos, estava o da geógrafa Mayara Vivian.

"A gente não pode deixar de se organizar. 10 anos depois, 20 anos depois, 100 anos depois. Enquanto não tiver uma sociedade justa, decente, digna, igualitária, a gente não vai ter descanso. Tem que lutar, não tem jeito", afirma ela, que hoje em dia não faz mais parte do MPL, mas segue atuante nas causas progressistas.

Mensagem compartilhada nas redes sociais do MPL ainda em 2012 | Reprodução/Redes sociais

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Em sua percepção, os objetivos do movimento foram alcançados naquele ano. "A gente tinha alguns objetivos muito claros: barrar o aumento da tarifa, e a gente conseguiu... A gente conseguiu pautar a tarifa zero e a mobilidade urbana na sociedade, uma coisa que era pouco discutida, pode ser muito mais discutida e a gente consegue também fortalecer a cultura popular de mobilização de ação direta", lembra ela.

Entusiasta da ação direta, como o fechamento de vias e obstrução por barricadas, a geógrafa acredita que essa é a única forma de a sociedade oprimida conseguir pautar suas questões: indo para as ruas. "Uma das poucas ferramentas que a gente tem, além de nós mesmos, nossos corpos, nossa voz, nossa comunicação, é a gente ir pra rua e fazer a ação direta, pautar as nossas questões", diz ela, que completa:

"A gente não é dono de nenhuma emissora de TV, a gente não é dono de nenhum grande jornal. A gente só tem a gente mesmo. Então a gente tem que ir para cima, não tem outra solução" - Mayara Vivian.

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Onde estão os integrantes do MPL que foram para as ruas em 2013?

"A gente não se candidatou nem a síndico de prédio", ironiza Mayara, lembrando do grupo que foi para Brasília participar de uma reunião com a presidente Dilma Rousseff (PT), em 24 de junho daquele ano.

A geógrafa destaca que o objetivo do movimento nunca foi "se sentar com a Presidência", mas sim dar destaque para a questão da tarifa zero. E nisso o MPL foi bem-sucedido. Em 2023, a gratuidade no transporte público voltou a ser debatida em uma audiência pública na Câmara de Vereadores de São Paulo.

Em Brasília, a deputada federal Luiza Erundina (PSol-SP) é autora de um Projeto de Emenda à Constituição (PEC) que busca garantir o passe livre no transporte público de todo o país. Ela busca, agora, recolher as 171 assinaturas necessárias para que a proposta seja apreciada pela Câmara dos Deputados.

Mayara Vivian era uma das porta-vozes do MPL em 2013 | Werther Santana/Estadão Conteúdo

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Junho foi o ovo da serpente?

Mayara acha "perversa" as análises de estudiosos de Junho de 2013, que avaliam que foi durante as manifestações daquele ano que a extrema-direita foi impulsionada, causando o impeachment de Dilma e a posterior eleição de Jair Bolsonaro (PL).

"Isso não tem nada a ver com o Movimento Passe Livre. O MPL sempre se identificou como um movimento democrático, progressista, anticapitalista, de esquerda. Se você for ver nossos aliados, o Sindicato dos Metroviários, Movimento Sem Teto, Movimento Sem Terra... a gente vem daí, só que a gente tem uma outra forma de organização", rebate ela.

Para ela, o avanço das pautas conservadoras foi uma reação aos movimentos progressistas que estavam nas ruas. E essa resposta veio, também, nas ruas. "A rua é de todo mundo, inclusive de quem discorda da gente", diz.

A geógrafa conclui que foi aí, na disputa de narrativas entre esses campos, que a direita se fortaleceu. Mas essas análises, segundo ela, só fazem sentido para planejar o futuro.

"Tão importante quanto fazer uma análise do que foi é respirar fundo e planejar o que tem que ser daqui pra frente", afirma Mayara.

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