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Informar sobre as mudanças na tecnologia é um desafio, diz Paolo Celot

Especialista do EAVI falou ao SBT News sobre como é aplicar a educação midiática na Europa

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Paolo Celot é especialista em educação e fundador da ONG 'Alfabetização Midiática para a Cidadania' (EAVI)
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Especialista em educação e fundador da ONG 'Alfabetização Midiática para a Cidadania' (EAVI), o italiano Paolo Celot, compartilhou um pouco da experiência de projetos europeus voltados ao tema, durante o Encontro Internacional de Educação Midiática realizado na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo.

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Ao SBT News, Celot destacou que um das maiores dificuldades da área tem sido educar e informar a população a respeito de tecnologias que se renovam rapidamente.

Paolo Celot é especialista em educação e fundador da ONG 'Alfabetização Midiática para a Cidadania' (EAVI) | SBT

"Um dos principais desafios é acompanhar a tecnologia, com a tecnologia mudando todo dia. Hoje, nós temos o ChatGPT e inteligência artificial, e somente poucas pessoas sabem sobre o impacto e, portanto, é muito difícil ensinar algo que ainda não se sabe muito sobre. Mas, também há alguns denominadores comuns na tecnologia, com implicações e consequências na dimensão humana, por exemplo, ao moldar a mente das pessoas quando elas vão votar, ou a integridade das eleições, e isso é algo que temos que trabalhar", disse Paolo Celot.

O italiano ainda lembrou da importância dos pais na educação e na proteção das crianças no ambiente digital, e do papel do Estado no suporte às famílias.

"Políticas públicas podem dar uma direção aos pais do quanto eles devem se atentar ou não. Elas podem auxiliar as famílias, elas podem auxiliar as crianças, deixando-os mais seguros quando estão online". "Para crianças é um local arriscado e, frequentemente, os pais não estão equipados para ajudá-los e encontram dificuldade para achar orientação de especialistas. Então, eles não sabem o que fazer", concluiu o especialista.

Confira a entrevista na íntegra com o fundador da ONG 'Alfabetização Midiática para a Cidadania', Paolo Celot:

SBT News -- Paolo, como um programa de educação midiática pode ser bem implementado no Brasil, onde há uma inequalidade no acesso à educação tecnológica?

Paolo Celot -- Essa é uma pergunta difícil de se responder. Há muitas similaridades entre o Brasil e outros países da Europa e um dos grandes desafios é o currículo das escolas. Alguns países têm letramento midiático, educação midiática, como matérias escolares, mas é exceção. A educação midiática ainda não encontrou lugar no sistema de ensino. Os tomadores de decisão têm que decidir o que deve ser ensinado sobre educação midiática, eles têm que treinar os professores, porque os professores precisam entender educação midiática antes de lecionar sobre o assunto. Há bastante material disponível sobre o assunto, mas, obviamente, eles precisam ser adaptados para o contexto do Brasil e para português.

SBT News -- Quais projetos de educação midiática estão sendo implementados na Europa, e na Itália?

Paolo Celot -- Na Europa, você tem países como a Finlândia, onde a educação midiática está espalhada por todo o currículo, e as crianças, desde o primário, aprendem sobre desinformação, segurança online, a proteção de menores, monitoramento. Mas isso é um privilégio. Na Itália, por exemplo, não é assim. Temos bastantes projetos informais de educação fora das escolas. Quando se trata do sistema de ensino, há algumas escolas secundárias que ensinam educação midiática dentro de outras matérias, como informática ou na aula de italiano, aqui seria aula de português. Mas, apenas no secundário e nas universidades que há mais cursos e mestrados sobre letramento midiático e educação midiática.

SBT News -- E quais são os principais desafios para os próximos anos na Itália, na União Europeia?

Paolo Celot -- Um dos principais desafios é acompanhar a tecnologia mudando todo dia. Hoje nós temos o ChatGPT e inteligência artificial, e somente poucas pessoas sabem sobre o impacto e, portanto, é muito difícil ensinar algo que ainda não se sabe muito sobre. Mas, também há alguns denominadores comuns na tecnologia, com implicações e consequências na dimensão humana, por exemplo, ao moldar a mente das pessoas quando elas vão votar ou a integridade das eleições, e isso é algo que temos que trabalhar. 

SBT News -- Como podemos avaliar a efetividade de políticas públicas relacionadas à educação midiática?

Paolo Celot -- A única maneira de avaliar a efetividade de uma política pública é medir o ponto inicial e o ponto final, e se houve alguma mudança de comportamento por causa dessa implementação. É bem difícil de ser feito em grande escala, e, portanto, no momento, não há nada científico ou dados, mas há um número de indicadores que podem ser usados e, juntos, eles nos dão uma indicação se uma política pública foi efetiva ou não.

SBT News -- Quais são os pontos principais que devem ser considerados na rede escolar, ou um diretor, ao iniciar um programa de educação midiática? 

Paolo Celot -- Olha, eles têm que ser claros com os seus objetivos, por que eles estão fazendo? Qual é a intenção deles? Qual é o alvo do programa? Ser transparente sobre a estratégia por trás do programa. E então usar os recursos, as ferramentas disponíveis, os professores. Se eles são transparentes sobre o que precisa ser feito, é provável que um bom resultado possa ser alcançado.

SBT News -- Quais habilidades fundamentais os professores precisam ter para navegar nesse mundo tecnológico e guiar seus estudantes de forma efetiva?

Paolo Celot -- Eu conheci poucos bons professores. Um bom professor é aquele que tem habilidades que facilitam o aprendizado do aluno. Além de competências específicas, os professores devem ter esse conhecimento próprio sobre o assunto, além dessas capacidades de ensino que são relativamente difíceis de achar.

SBT News -- As mídias sociais influenciam profundamente a vida das crianças, como o governo pode auxiliar as famílias a promoverem uma relação saudável com a mídia? Isso é possível atualmente?

Paolo Celot -- Sim, é possível. Políticas públicas podem dar uma direção aos pais do quão eles devem se atentar ou não. Eles podem auxiliar as famílias, eles podem auxiliar as crianças deixando os mais seguros quando estão online. Eu estava falando anteriormente, essa internet é feita para adultos e, mesmo que haja bastante oportunidades, as crianças estão em risco. Para crianças é um local arriscado e, frequentemente, os pais não estão equipados para ajudá-los e tem dificuldade para achar orientação de especialistas. Na paternidade digital, se posso dizer, a primeira regra é ser um bom pai. Se você é um bom pai é bem provável que você também será bom "pai digital".

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