Débora Garófalo destaca a importância da democratização do acesso à tecnologia
Diretora de Inovação Pedagógica da Prefeitura do Rio de Janeiro reforça a valorização da educação
SBT News
Com o tema "Educação Midiática para a Democracia e Equidade Social", o Encontro Internacional de Educação Midiática reuniu, na última semana, na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo, autoridades e especialistas para um debate sobre a importância da informação na formação de uma audiência crítica, desde a infância, e no enfrentamento do fenômeno das fake news.
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Ao SBT News, a professora e diretora de Inovação Pedagógica da Prefeitura do Rio de Janeiro, Débora Garofalo, contou a experiência dela com projetos ligados à robótica em escolas públicas e a importância da democratização do acesso à tecnologia.
Primeira sul-americana finalista do Global Teacher Prize, prêmio considerado o Nobel da Educação, Débora Garofalo destacou a necessidade de investimento em educação, desde a valorização dos profissionais até a promoção de infraestrutura em escolas públicas do país.
"A gente precisa ressignificar esse pilar. E esse pilar de ressignificação passa por uma valorização da formação do professor, da carreira desse profissional, mas também da unidade escola. Quais as escolas que nós estamos fomentando?"
Confira a entrevista na íntegra com a diretora de Inovação da Multirio, Débora Garofalo:
SBT News -- Débora, você pode contar um pouco desse projeto que transformou lixo em robótica nas escolas da Periferia de São Paulo?
Débora Garofalo -- O projeto de robótica com sucata nasce de uma intervenção com a comunidade, onde as crianças acreditavam que elas não poderiam aprender robótica, que robótica não era para estudante de escola pública, ao mesmo tempo, como uma porta de entrada para ressignificar o ensino. E esse trabalho, então, ele parte de uma problemática social que foi a problemática do lixo trazido pelas crianças, o lixo que impedia essas crianças de irem para a escola em dia de chuva, trazia doenças como dengue e leptospirose. E, diante desse cenário, então, eu tive um insight, "por que não transformar esse lixo em objeto de conhecimento?" E o trabalho, então, nasce dessa problemática e se torna o trabalho de robótica com sucata que consistiu em aulas públicas de recolhimento dos materiais para dentro da sala de aula. Lixo eletrônico, lixo reciclável e ali um aprendizado "mão na massa" através da cultura maker da robótica para que os estudantes pudessem criar diversos artefatos.
SBT News -- Quanto desse trabalho pode incluir para inclusão digital dos alunos? Como ele pode ser referência para outras iniciativas em outros lugares do país para inclusão da educação midiática com alfabetização e a educação de uma maneira geral?
Débora Garofalo -- O trabalho democratizou o acesso à tecnologia e inovação. De que forma? Ele tornou acessível. Antes o trabalho de robótica era uma coisa que era muito caro. Nosso trabalho inspira outros professores a também começar a olhar com criatividade para esse pilar e a partir daí ele se torna uma política pública e quando ele se torna uma política pública ele permanece, através de outros pilares. E um desses pilares é a cultura digital da gente fomentar essa educação midiática, de explorar, então, a oralidade do estudante, de trazer essa temática, mas de trazer, principalmente, a criticidade de fazer os nossos estudantes compreenderem que eles não eram só consumidores de tecnologia, mas eles eram produtores e entender o que existe por detrás dessa tecnologia.
SBT News -- Como trazer senso crítico a uma geração que já nasceu dentro do mundo digital? Como quebrar esse avanço do poder de influência do algoritmo na educação básica, na educação média e no ensino público brasileiro?
Débora Garofalo -- Acho que você tocou em pontos importantes, nossos estudantes eles já têm acesso a essa tecnologia. O que precisa realmente é a educação trazer esse pilar da educação midiática e trazer habilidades e competências que professores precisam trabalhar com seus estudantes para desenvolver essa criticidade. Hoje os nossos estudantes acessem as redes sociais, mas nem sempre ele sabe que aquele lugar que ele está, está olhando aquela consulta que ele tá fazendo ou uma navegação na internet, se é um site confiável. Esse é o papel da educação, por isso que não dá mais para ficar distante. A educação midiática é um pilar importante. A gente precisa cada vez mais então desenvolver competências e habilidades que geram esse essa criticidade dos nossos estudantes.
SBT News -- Não só na educação crítica, mas uma educação que leve a tomar iniciativas também, tomar iniciativas dentro desse ambiente, propor soluções para crescer com essa educação digital.
Débora Garofalo -- A gente trabalha com três pilares: 1) cultura digital; 2) as tecnologias da informação e da comunicação e 3) o pensamento computacional, através de um conjunto de habilidades, vai gerar justamente isso. E, principalmente, uma atratividade no nosso currículo, uma ressignificação por muito tempo educação ela foi pautada no tradicional e hoje os nossos estudantes não aceitam mais isso, eles aprendem de outras formas, através das resoluções de problema, da colaboração, por isso é essencial fomentar esse pilar na educação.
SBT News -- Como trabalhar isso na educação brasileira com 11 milhões de pessoas que não são alfabetizadas depois dos 15 anos, como trabalhar essa discussão dentro desse contexto de desigualdade e diferença entre as regiões do país?
Débora Garofalo -- Com certeza a gente precisa trazer educação como concerne da nossa sociedade. Então, a gente precisa valorizar essas ações, precisamos de investimento, a educação necessita disso, necessita desse apoio, mas, principalmente, a gente precisa entender qual é o motivo dessa evasão. Muitos dos nossos estudantes acabam abandonando a escola para poder trabalhar ou muitos deles realmente não têm acesso de uma forma atrativa, então, a gente precisa ressignificar esse pila. Esse pilar de ressignificação, passa por uma valorização da formação do professor, da carreira desse profissional, mas também na unidade escolar, quais as escolas que nós estamos fomentando? Além desse dado que você traz, tem outro dado alarmante: metade praticamente das nossas escolas não possuem saneamento, ou seja, não possui o mínimo necessário para estar funcionando e para estar recebendo as nossas crianças, então a gente precisa se voltar para essas crianças, a gente precisa promover campanhas e não só educação, mas a sociedade civil também apoiando nessa luta para que a gente possa reverter essa situação.
SBT News -- Você vê de uma maneira geral os governos comprometidos com essa inclusão da educação digital na alfabetização nas escolas? Como estão os passos governamentais nos níveis municipal, estadual e federal?
Débora Garofalo -- A gente vê uma movimentação, mas os últimos quatro anos foram desesperadores para quem estava trabalhando e atuando tanto no município como no estado. Nós não tivemos uma coordenação federal de todas as ações que nós presenciamos e, principalmente, a pandemia porque ocasionou diversas dores, entre elas a saúde mental. Então, nesse momento a gente vê uma retomada dessa organização federal, a gente vê cada vez mais estados e municípios empenhados a fazer a diferença e a fazer uma unificação da educação.
SBT News -- Obrigado pela sua entrevista, Débora Garofalo.
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