Novo Ensino Médio: "Revogar é grande erro, uma tragédia", diz Mendonça Filho
Entidades de Educação defendem essência do novo modelo e consulta pública para definir futuro do ensino

Rafaela Vivas
O deputado federal Mendonça Filho (União-PE), ex-ministro da Educação, criticou nesta 3ª feira (4.abr) a possível suspensão ou revogação do Novo Ensino Médio: "É um grande erro, um grande equívoco por parte do governo". O parlamentar foi o titular do MEC no governo de Michel Temer quando foi aprovada a Lei 13.415, de 2017, que criou o modelo.
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"Discutir a revogação da lei do Novo Ensino Médio e não colocar nada no lugar para voltar ao passado, é um retrocesso", afirmou.
Mendonça Filho disse que suspender a proposta aprovada é "manutenção da tragédia", voltar a "um padrão de educação do século passado", que não está conectado à necessidade do jovem e a sua formação para o mercado de trabalho.
O parlamentar justificou que o Novo Ensino Médio foi fruto de um amplo debate travado por mais de duas décadas e aprovado em um momento em que o ensino médio brasileiro "se encontrava no fundo do poço" e a performance dos alunos revelava déficit preocupante.
"Os alunos, ao final do ensino médio, aprendendo apenas 3% do que é básico em matemática e 30% de português. Uma grande evasão na faixa de 40% e nenhuma conexão com a educação técnica, ou seja, o ensino médio não dialogava com os jovens", avaliou o ex-ministro da Educação.
Mendonça Filho ressaltou que o novo sistema foi criado para flexibilizar o currículo, com foco no mercado de trabalho, e tornar o ensino mais atrativo. "Quando o governo atrasa esse cronograma, na verdade, ele está jogando contra o interesse da juventude que cursa o ensino médio nessa realidade brasileira".
Pressão política
Na época em que a lei foi aprovada pelo Congresso Nacional, em 2017, o político pernambucano garantiu que a matéria foi apoiada por entidades estudantis e organizações ligadas à Educação, e aposta que até hoje o tema segue com forte adesão.
Mendonça atribuiu à pressão pela derrubada ou adiamento do modelo à motivações políticas. "Eu acho pressão dos setores corporativos radicais da esquerda dentro do PT e fora do PT, PSOL e PCdoB, que são partidos que ao longo das suas existências sempre funcionaram muito mais numa visão corporativa de interesses políticos-partidários-ideológicos do que do interesse dos jovens brasileiros", avaliou.
"Havia apoio e há apoio. Se você tirar o debate das corporações, que muitas vezes são dominadas pelo time mais à esquerda e estudantes liderados por entidades estudantis vinculados à partidos de esquerda, você vai verificar que a vontade da média dos estudantes brasileiros é de um ensino médio flexível onde o itinerário informativo dialoga com o seu projeto de vida", completou o ex-ministro da Educação.
Mendonça Filho ressaltou ainda que o modelo instituído é o mesmo adotado em países desenvolvidos e que o velho sistema estava desconectado com a realidade. Além de criticar a eventual suspensão, também se colocou contra a adequação ao calendário.
"O movimento ele se carcateriza muito mais um movimento em favor da revogação do que propriamente de aprimoramento da nova proposta do ensino médio. Nós tivemos cinco anos de processo de transição, desde 2017 até 2022", destacou.
Indagado sobre a falta de capacitação de professores para a implantação do novo ensino na rede pública, o político frisou que a falta de estrutura e adequação nas estruturas não são derivadas do novo modelo. "A falta de formação de professores e o déficit de professores em áreas específicas é uma situação que gera constrangimento desde o modelo antigo. Então a gente tem que cuidar disso, dos pontos críticos", disse Mendonça Filho.
Assista abaixo à íntegra da entrevista de Mendonça Filho ao Poder Expresso, do SBT News.
Consulta pública
Entidades ligadas à Educação como a ONG Todos Pela Educação e o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) defendem que a essência do Novo Ensino Médio seja mantida e destacam que as alterações podem impactar no próximo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Para o Consed, qualquer decisão só deve ser tomada pelo governo após a consulta pública aberta sobre o tema. Avalia que suspender o cronograma traz um risco de atraso que, no limite, pode até inviabilizar o Novo Enem 2014.
"É importante recordar que o Novo Enem foi constituído após longo debate em grupo de trabalho com a participação das redes estaduais, do próprio Ministério da Educação, do INEP, e do Conselho Nacional de Educação", argumentou o Consed.
O movimento Todos Pela Educação divulgou nota na qual apoia o adiamento das mudanças no Enem, mas defende o modelo aprovado em 2017.
"O momento exige mesmo um freio de arrumação, e nesse sentido, é importante o adiamento das mudanças no Enem". A instituição ressalta, no entanto que "a essência do Novo Ensino Médio seja defendida e efetivada: a expansão da educação integral e a diversificação de itinerários, com objetivo de aprofundamento do aprendizado dos jovens".
O Todos Pela Educação reforçou apoio para ouvir toda a comunidade escolar e entende que, "a hora é de promover a consulta pública anunciada, identificar os desafios que as escolas estão encontrando e construir um verdadeiro Novo Ensino Médio".
Assista à íntegra da entrevista com o deputado Mendonça Filho (União-PE):