Técnica de reconstrução ocular reverte aparência do chamado "olho branco"
Procedimento, que funciona como uma tatuagem, não devolve a visão, mas devolve autoestima de pacientes
Flávia Travassos
Uma técnica de reconstrução ocular está ajudando pacientes com opacidade na córnea, o chamado "olho branco". O procedimento, ainda pouco conhecido no país, não devolve a visão, mas ajuda pacientes a recuperaram a autoestima.
É o caso da Rosana. Depois de semanas com vermelhidão e dores nos olhos, a suspeita de conjuntivite se concretizou em um diagnóstico muito mais grave. "Um fungo raro e muito rápido. Em uma semana, eu perdi a visão", lembra a psicóloga.
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Rosana Boralli chegou a fazer dois transplantes de córnea; perdeu a visão do olho esquerdo e, em seguida, o amor próprio, depois que ficou com o olho branco. "Por mais que não fossem as pessoas, por mais que eu saísse para trabalhar, me incomoda", ela acrescenta.
Cerca de 285 milhões de pessoas têm a visão prejudicada por causa de alguma doença ocular, segundo a Organização Mundial da Saúde. No Brasil, são 30 milhões. Em até 80% dos casos, há tratamento.
A opacidade da córnea acontece, na maioria dos casos (50,6%), em consequência de um acidente, doenças de retina (15,5%), do sarampo (9,5%) e de causas congênitas (5,5%).
Mas, hoje, um procedimento cirúrgico, pouco invasivo, tem conseguido ajudar pessoas com "olho branco": a ceratopigmentação. Em um centro cirúrgico, com o paciente sedado, o médico faz uma espécie de tatuagem na córnea do olho que não enxerga mais.
"Eu posso usar uma maquininha mesmo, um dermógrafo, para fazer uma pigmentação, ou em alguns casos, eu faço como se fosse uma técnica cirúrgica mesmo, um túnel dentro da córnea para injetar a tinta lá dentro", explica o oftalmologista Alexandre Costa.
Apesar de aprovada pela Anvisa, a técnica ainda não é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina como procedimento médico, mas, para o especialista, é segura e eficaz.
"Já é feito em outros países do mundo, muitas pesquisas. Hoje, a qualidade que a gente tem dos pigmentos já registrados na Anvisa, com todo um crivo de biossegurança, de esterilização, eles garantem essa segurança para gente fazer aqui no Brasil", pondera o oftalmologista.
Rosana fez a cirurgia em novembro do ano passado e, finalmente, pode voltar a sorrir. Agora, a psicóloga só tem olhos para o futuro. "Me olhando no espelho e falando: 'agora eu estou bem, já tirei um peso e posso voltar à vida normal'".
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