Maior tragédia da história de Petrópolis completa 1 ano
Temporal deixou 235 vítimas. Projeto inspirado em gesto heroico de jovem ajuda famílias em áreas de risco

Fabiano Martinez
A maior tragédia da história de Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, completa um ano. No dia 15 de fevereiro do ano passado, um temporal atingiu a região e deixou 235 vítimas.
As imagens da catástrofe continuam vivas na memória dos moradores da região, principalmente, para quem viveu a tragédia, ou ainda pior, perdeu amigos e familiares nela. É o caso do Seu Leandro. Pelas redes sociais, ele acompanhou as imagens do filho, de 17 anos, sendo arrastado pelas águas da chuva.
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"Por volta das 9 horas, mais ou menos, eu recebi a imagem do Gabriel em cima do ônibus. Ali, o mundo caiu", lembra o pai do rapaz.
O estudante Gabriel da Rocha estava no ônibus quando o rio que atravessa a cidade transbordou. Ele ajudou outros passageiros a escapar, mas foi levado pela correnteza.
"Ele optou em ajudar as pessoas. E os relatos que nós temos é que, quando alguém chamava pelo Gabriel, para sair, a frase que ficou muito marcante para mim, ele falava para irem saindo, que ele sairia depois, pela janela. E quando ele foi, se deu conta da situação, ele não teve mais chances", conta Leandro Ferreira.
No quarto de Gabriel, ficaram as lembranças do gesto heroico. A morte do adolescente não foi em vão. Em memória do filho, o pai criou um projeto social para resgatar pessoas em situação de risco.
"Um legado de caridade, um legado de amor ao próximo. E é o meu papel, dar seguimento à ação dele", afirma o pai.
A solidariedade também inspirou o padre José Celestino a acolher mais de 250 pessoas na Paróquia de Santo Antônio. "Vi todo o morro caindo, aqui, o Morro da Oficina, e quando vi aquilo, eu entrei em desespero, comecei a chorar, a gritar mesmo: meu Deus, tenha misericórdia! Porque as pessoas que a gente conhece, inclusive, paroquianos que mora aqui, e eu falei 'vamos abrir as portas da paróquia! A paróquia é do povo, vamos abrir!'", relata o padre.
Só naquele bairro de Petrópolis, cerca de 80 casas desabaram. "Eram sepultamentos que não podiam demorar, não tinha velório, não tinha nada. Chegavam do IML, já iam logo para serem sepultados. As pessoas faziam a oração ali rápida, né?", acrescenta o sacerdote.
Além de causar mortes e deixar um rastro de destruição, a chuva atingiu, em cheio, a economia de Petrópolis. A Rua Teresa, o polo comercial no centro da cidade, foi uma das mais afetadas. Por lá, o prejuízo chegou aos R$ 665 milhões. Quanto às perdas humanas, algumas empresas relataram o desaparecimento ou morte de funcionários.
O município precisou de ajuda para a reconstrução. Doações chegaram até do exterior. Famílias desabrigadas receberam o aluguel social. "São hoje quase 130 obras, que estão ou concluídas, ou estão sendo realizadas, ou estão em licitação, e mais um conjunto grande de obras que estão por vir", informou o prefeito de Petrópolis, Rubens Bomtempo.
Apesar da tragédia, mais de 70 mil pessoas ainda vivem em áreas de risco na cidade cercada de montanhas. A Defesa Civil capacitou núcleos de voluntários para auxiliar as famílias quando chove forte.
A inteligência artificial também se tornou uma aliada importante para evitar novas tragédias. O Centro Integrado de Monitoramento e Operações da Defesa Civil de Petrópolis está usando a tecnologia para verificação e cruzamento de dados. O sistema coleta informações sobre a quantidade de chuva, altura do nível dos rios, imagens de satélites e também radares. É baseado nessas referências que autoridades passaram a tomar decisões, como a emissão de alertas que podem salvar vidas.
O projeto social dirigido pelo Bruno funcionava em um prédio que desabou no Morro da Oficina. A nova sede está sendo reconstruída em outro local. Um exemplo da luta dos moradores para reerguer a cidade.
"Estamos aqui, recomeçando, com espaço reduzido, mas dando certo, graças a todos que estão assistindo, graças ao povo brasileiro, à ajuda que veio do exterior, assim, a nossa gratidão eterna", afirma o diretor do 'Projeto do Morro', Bruno Gonçalves.
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