Tráfico no porto de Santos é chefiado por homem condenado a 90 anos de prisão
Reportagem do SBT revelou uso de mergulhadores, aliciados pelo PCC, para esconder cocaína no casco de navios
SBT News
Mergulhar, durante a noite, a 10 metros de profundidade, a para esconder cocaína nos cascos de navios, no porto de Santos, no litoral paulista... não é tarefa para qualquer mergulhador.
Mas, tudo isso só acontece graças a um homem: André Luiz dos Santos, de 47 anos, conhecido como 'Keko'. Um criminoso condenado a mais de 90 anos de cadeia, e que vive escondido no mangue, bem perto do porto.
O aumento das apreensões de cocaína, colocada no casco de navios, no maior porto da América Latina, tem algumas explicações. A tecnologia usada para escanear todos os contêineres, que são levados para a África e Europa, dificultou a vida dos traficantes.
Os mergulhadores usam pequenos barcos para se aproximar dos navios. Mas, o segredo é chegar até lá. Para isso, a facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC, que domina o tráfico na região, conta com Keko.
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O traficante tem total domínio da região. Segundo a polícia, ele guarda a droga no mangue e leva os mergulhadores até os navios. A história de Keko e a atuação dele está descrita e relatórios de inteligência da Polícia Civil e do Ministério Público.
De acordo com investigadores, ele ficou conhecido quando se envolveu na morte de 2 policiais civis, há 14 anos. Os corpos foram encontrados na Serra do Mar, em outubro de 2008. Desde então, Keko está foragido. Um detalhe importante: ele nunca foi preso, nunca se afastou do crime e nem de sua família, que mora na comunidade Humaitá, em São Vicente, na Baixada Santista.
O ex-policial militar, que sempre trabalhou na região, aceitou falar sobre Keko, mas sem mostrar o rosto. Ele conta que a ligação do criminoso com o PCC é antiga.
"O partido que enviou ele para as Farcs, na Colômbia, sabendo que as Farcs e o PCC já têm uma antiga aliança, né? Principalmente, no tráfico de cocaína, pasta base. E lá, ele aprendeu todas as táticas de guerrilha. Tudo que for ambiente de mata, de combate em mata, de manuseio de alimentos dentro da mata em si, tudo isso, ele aprendeu na Colômbia", relata o ex-PM.
Nas poucas vezes que a Polícia de São Paulo chegou perto de Keko, encontrou, no meio do mangue, alguns rastros, como uma das casas usadas por ele. Perto dali, os agentes encontraram aparelhos de musculação e gerador de energia, para garantir "banho quente" e "telefone celular sempre carregado". Foram localizadas ainda câmeras de monitoramento em uma trilha.
Munição de armamento pesado e cocaína também estavam no mangue. A droga ficava escondida em tambores enterrados em compartimentos cavados em um barranco.
As tentativas de prender o criminoso também não deram certo. Em 2020, a Polícia Militar fez uma patrulha com um helicóptero em uma região do mangue. Keko e outros integrantes da facção reagiram. Eles atiraram e quase derrubaram a aeronave.
O relatório afirma que "disparos de fuzil" atingiram o helicóptero em diversas partes, inclusive, "chegado a afetar o comando dos pedais". O piloto precisou fazer "um pouso de emergência, que foi feito no Aeroporto de Itanhaém".
Em seguida, a Polícia Militar montou uma operação para tentar prender o traficante e levou, para a região, agentes do COE, o Comando de Operações Especiais, uma espécie de elite da PM paulista. Os militares fizeram um cerco. Keko reagiu, mais uma vez. Baleou 2 PMs e conseguiu escapar.
Um dos policiais foi atingido no "punho direito" e o outro na "parte posterior da coxa esquerda". A PM, segundo o relatório, precisou montar uma "verdadeira operação de resgate" e ambos foram socorridos.
Keko conhece todos os rios e canais na região do mangue. Ele ainda aproveita dos bloqueadores de celulares usados nos presídios da região. O equipamento também impede o uso de rastreadores por GPS.
"Ele tem todo o conhecimento ali, inclusive, de usar o bloqueador das operadoras do presídio, do CDP de São Vicente, para que os barcos não fossem rastreados. Muitas vezes, não conseguem rastrear, a não ser por drone", acrescenta o PM.
Na reportagem desta 5ª feira (09.fev), os repórteres Fábio Diamante e Robinson Cerantula vão mostrar vídeos que o próprio traficante grava, no meio do mangue, para desafiar a polícia.
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