Venda de zolpidem dispara no Brasil e preocupa especialistas
Medicamento para insônia possui efeitos colaterais como alucinações, amnésia e sonambulismo
Simone Queiroz
A venda do remédio para insônia zolpidem explodiu no país. Em quatro anos, houve um aumento de 80%. O alto consumo preocupa por causa dos efeitos colaterais. Pacientes relatam alucinações, amnésia e sonambulismo.
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Por indicação médica, esta empresária -- que não quer ser identificada -- começou a tomar o hemi-tartarato de zolpidem, um hipnótico que induz ao sono. Ela dormiu, mas os efeitos adversos foram assustadores. Ela foi acordada pelo filho, com um sonho obsessivo.
"Queria comprar um caminhão, queria comprar um caminhão e não sei por quê. Quando eu acordei, não parecia que eu tinha acordado. Eu fiquei falando pra ele: 'vou comprar um caminhão porque a gente precisa de um caminhão aqui, como a gente vai viver sem um caminhão?'".
São inúmeros relatos semelhantes. Uma jovem conta que tomou um comprimido e, um tempo depois, levantou pra cortar seu cabelo. Outro revela que chegou a dirigir sonâmbulo.
No Brasil, as vendas dessa medicação aumentaram 80% em quatro anos. Só agora em 2022, até junho, mais de 10,5 milhões de doses já foram comercializadas. Fica a pergunta: será que todo mundo que usa realmente precisa do remédio para ter uma boa noite de sono?
Para o neurocirurgião Wanderley Cerqueira de Lima, do Hospital Albert Einstein, a resposta é não. Ele ainda critica os colegas que preferem receitar o remédio a combater as causas da insônia: "hoje em dia, as pessoas usam muitas substâncias psicoestimulantes, tipo cafeína ou café. Temos que saber os fatores externos, as crises familiares, a má qualidade do trabalho, a má remuneração, a pobreza, tudo isso vai interferir no seu ritmo de sono".
Se o uso for realmente necessário, é preciso ajustar a dose e tomar, no máximo, por quatro a seis semanas. Caso contrário, o zolpidem pode ter sérias consequências, como tolerância e abstinência, alucinação, sonambulismo, psicose, agitação.
O neurocirurgião cita alguns hábitos que beneficiam um sono reparador: "não tomar café após as 15 horas, um ambiente calmo, um ambiente geralmente mais frio, mais aconchegante, um travesseiro bom, um colchão bom também. Não ter barulho, não alimentar demais antes de dormir, cortar comidas pesadas, gordurosas, porque a digestão vai atrapalhar o seu ritmo de sono".
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