Da Tropicália à MPB: conheça a discografia de Gal Costa
Uma das maiores vozes do Brasil, artista morreu na manhã desta 4ª feira (9.nov)
Morreu, nesta 4ª feira (9.nov), Gal Costa, uma das maiores vozes da música brasileira, aos 77 anos. Nascida em Salvador, Bahia, em 26 de setembro de 1945, Maria das Graças Penna Burgos virou 'Gal' ao nascer como artista com a Tropicália, e nunca parou de se reinventar.
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Seu último álbum lançado foi Nenhuma Dor, em 2021, no qual regravou algumas das principais músicas de sua carreira, como Meu Bem, Meu Mal e Coração Vagabundo. Em 10 faixas, Gal faz duetos com Rodrigo Amarante, Seu Jorge, Silva, Criolo, Rubel, Tim Bernardes e Zeca Veloso, filho de Caetano Veloso.
A pele do futuro, lançado em 2018, foi o último álbum de inéditas de Gal e teve a participação da também já falecida Marília Mendonça, além de Maria Bethânia, na canção Minha Mãe. Bethânia, inclusive, foi parte importante na longa carreira de Gal, que acumula mais de 40 discos lançados.
Em 1965, cantando Sol Negro, composição de Caetano Veloso, Gal Costa, então Maria das Graças, estreou em duo com Maria Bethânia no primeiro LP dela. No mesmo ano, seu primeiro compacto Maria da Graça, gravado na RCA, trouxe Sim, foi você, de Caetano, e Eu vim da Bahia, de Gilberto Gil.
Seu primeiro LP, Domingo, foi gravado em 1967, ao lado de Caetano. Lá nasceu seu primeiro hit, o samba-canção Coração Vagabundo, muito mais para Insensatez do que para Alegria, Alegria, que Caetano defenderia no Festival Internacional da Canção daquele ano. No ano seguinte, grava quatro músicas do álbum Tropicália ou Panis et Circencis, Baby entre as principais. Ainda em 1968, com colar de espelhos, penteado black power, Gal defende a canção Divino Maravilhoso no Festival da Record e fica em terceiro lugar.
Em 1969, lança dois álbuns, Gal Costa e Gal, com a canção Meu Nome é Gal, presenteada à ela por Roberto Carlos como retribuição pela menção a ele na letra Baby.
Com o exílio de Caetano e Gilberto Gil por conta da ditura militar, Gal torna-se símbolo do tropicalismo. Em 1970, lança Legal, com capa assinada pelo artista plástico Hélio Oiticica. A primeira música é uma versão de Eu Sou Terrível de Erasmo e Roberto Carlos. No álbum, Gal também canta faixas compostas por Gil e Caetano, como London, London e a Língua do P, canções que refletem sobre o exílio e criticam o período.
A revolta de Gal com o cenário político da época retorna no disco ao vivo Fa-Tal - Gal a Todo Vapor, de 1971, lançado três anos depois do AI-5, em dezembro de 1971. No show, dirigido por Waly Salomão, o canto de Gal é valorizado na primeira parte, com ela entoando algumas canções à capela. Na segunda parte, os gritos de Gal se juntam aos acordes do guitarrista Lanny Gordin, que faz solos dignos de Jimi Hendrix.
Segundo a biografia da cantora, feita pela Enciclopédia do Itaú Cultural, os álbuns gravados nesse período enfatizam a versatilidade vocal e mostram a facilidade de Gal em ir do canto contido, característico da bossa nova, à estridência do rock, influenciada pela cantora americana Janis Joplin, e do tropicalismo, ampliando o campo de significação da obra.
No álbum seguinte, Índia, de 1973, Gal traz mais uma vez sua revolta política. Na capa do disco, um close da virilha da cantora, que, na contracapa, aparece de seios nus, foi vendido nas lojas dentro de um plástico escuro devido à censura. Entre as gravações está a interpretação de Gal Costa a Desafinad", de João Gilberto.
Com o disco Cantar, de 1974, produzido por Caetano e com arranjos de João Donato, Gal muda a postura vocal, amadurece como cantora e troca a onda hippie para se reaproximar do MPB, consolidando-se assim como uma das principais representantes do gênero.