Nanopartícula pode revolucionar tratamento de câncer, diz estudo
Pesquisa brasileira mostra que é possível concentrar drogas anticâncer diretamente nos tumores
Um tratamento pioneiro na área de nanotecnologia aplicada à medicina promete aumentar a potência dos medicamentos e trazer mais qualidade de vida para pacientes com câncer. O "sistema LDE de veiculação de drogas" consiste em nanopartículas que, se injetadas na corrente sanguínea, são capazes de transportar drogas de ação anti-câncer e concentrá-las diretamente nos tumores.
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De acordo com estudos, concentrar as drogas na estrutura do tumor, além de tornar o tratamento mais eficiente, reduz consideravelmente a toxicidade das drogas e, consequentemente, os efeitos colaterais indesejados nos pacientes.
Raul Cavalcante Maranhão, criador da pesquisa e professor titular da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), explica que a nanopartícula é feita artificialmente em laboratório. "Nela colocamos, por exemplo, uma droga anticâncer e injetamos na circulação do paciente. Ela vai se concentrar nos tumores e nas metástases do câncer, porque a célula tem afinidade muito grande pela nossa partícula. Essa invenção foi patenteada nos Estados Unidos em 1996", diz.
"Quando a droga é colocada dentro das nanopartículas, a toxicidade grande contida nas drogas anticâncer é quase que totalmente abolida, você trata os pacientes sem que caia um fio de cabelo. É uma ação incrível", ressalta.
"Reduzida a toxicidade, você tem agora uma série de possibilidades, como a possibilidade de aumentar ainda mais a dose do medicamento", acrescenta o médico.
Agora, Cavalcante explica, a luta é para levar a pesquisa para a indústria, para que o tratamento chegue à população. "É fundamental fazer a transição para disponibilizar à sociedade essa nova maneira de terapia, que pode ter aplicações sem dúvida fundamentais à medicina em vários campos", pontua.
Na experimentação clínica, em câncer avançado, pacientes com mieloma duplo, um tipo de câncer hematológico, responderam bem ao tratamento de 5 meses com LDE. Segundo o estudo, houve decréscimo do marcador da doença e nítida melhora clínica, com diminuição do quadro de dor característico da doença.
Outro resultado positivo observado foi em transplantes de medula óssea. Nessa modalidade de transplante, são ministradas doses altas de quimioterápicos, acompanhados de radioterapia. "A toxicidade e o sofrimento dos pacientes são muito grandes, e a mortalidade é muito alta. Com o uso da LDE-etoposídeo na quimioterapia, reduziu-se drasticamente a toxicidade. A sobrevida dois anos após o transplante foi quase três vezes maior do que as registradas na literatura mundial", diz o estudo.