Viúva de Bruno Pereira critica falta de apoio do governo federal
Beatriz Matos também pediu retratação do presidente Bolsonaro e cobrou atuação da FUNAI no Vale do Javari
SBT News
A antropóloga Beatriz Matos, viúva do indigenista Bruno Pereira, assassinado em junho, no Vale do Javari (AM) ao lado do jornalista britânico Dom Phillips, foi ouvida por nesta 5ª feira (14.jul) por senadores da Comissão Temporária sobre a Criminalidade na Região Norte. Em audiência pública, de forma remota, Beatriz pediu rigor nas investigações dos assassinatos e criticou a falta de apoio do governo federal desde o desaparecimento até o funeral de Bruno.
"A família não recebeu uma palavra de condolência. No funeral do Bruno tinha representante do governo municipal, do governo estadual, não tinha do governo federal. Então com exceção de vocês senadores, os deputados na comissão da Câmara também, a gente não teve nenhum apoio", lamentou.
A viúva pediu a retratação do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do presidente da Funai, Marcelo Xavier, por declarações que desabonam a atuação profissional e a memória de Bruno.
"Gostaria que o presidente do Brasil, o vice-presidente do Brasil e o presidente da Funai se retratassem em razão das declarações ridículas que fizeram. O presidente da Funai falou em ilegalidade da presença deles ali. O presidente da República falou coisas que eu me recuso a repetir aqui. Isso não é uma questão menor. É uma questão muito séria", disse a antropóloga.
Ela ressaltou ainda a importância do trabalho realizado pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e de organizações não governamentais que segundo Beatriz atuam para garantir a segurança e proteção dos indígenas. "A Univaja faz o trabalho que era para ser feito pela FUNAI. É o que deveria ser política pública e o Univaja tomou pra si já que a política pública não estava sendo realizada", avalia.
A antropológa que também atua no Vale do Javari, denunciou ainda os riscos da falta de fiscalização na região de Atalaia do Norte, no Amazonas. "A gente às vezes fala de um genocídio silencioso, porque você pode ter a morte de várias pessoas ali sem que a gente fique sabendo. Através de contaminação, por doenças, pelo próprio garimpo e violência e ataque à esses povos", pontuou.
Univaja pede mais segurança
A Comissão do Senado também ouviu nesta 5ª feira (14.jul) o líder indígena e ex-coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) Jader Marubo. Ele declarou aos parlamentares que a região vive um processo de desmonte das estruturas de fiscalização na Amazônia. Disse que indígenas e servidores da Funai vivem um ambiente de medo e ameaças por denunciarem a atuação ilegal de garimpeiros, pescadores, caçadores e do narcotráfico.
A Comissão Temporária sobre a Criminalidade na Região Norte investiga a ação da Fundação Nacional do Índio (Funai) e o apoio às famílias de vítimas da violência na região. Os parlamentares estão ouvindo as famílias das vítimas e vão fiscalizar as ações do governo em relação aos casos.
"Se houvesse uma Funai forte, uma Funai atuante, uma Funai que fizesse o trabalho ao qual ela foi criada para fazer, hoje o Bruno estaria vivo", disse Jader Marubo. Ele também pediu apoio do parlamento para garantir mais segurança no Vale do Javari.