Tríplice fronteira: região de crime é dominada por facções e vive sob tensão
Região onde Bruno e Dom morreram sofre com narcotráfico, pescadores, garimpeiros e madeireiros ilegais
A história que o inglês Dominic Mark Phillips, o Dom Phillips, queria contar ao mundo era sobre uma Amazônia, aparentemente, legal e auto sustentável. Com ajuda do indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira, ele entrou em uma incursão na Terra Indígena Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas, para conhecer o projeto de monitoramento da região realizado por índios e ribeirinhos. No domingo (5.jun), os dois foram mortos brutalmente próximo de Atalaia do Norte (AM).
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Na tríplice fronteira Brasil-Peru-Colômbia, a área, onde o indigenista e o jornalista inglês foram assassinados, é território ocupado por facções criminosas, por garimpeiros, madeireiros e pescadores ilegais, por narcotraficantes. Dominada pelo medo, pela lei do silêncio e em constante tensão social, onde grupos ilegais proliferam na ausência do estado, a terra indígena passou os últimos dez dias tomada pela buscas das forças de segurança.
Os rios que adentram o Brasil pela tríplice fronteira, onde morreram Pereira e Phillips, são usados há décadas como rota do tráfico de armas, drogas e todo tipo de contrabando. A pesca ilegal do pirarucu também alimenta um mercado paralelo, marcado por violência, segundo a Polícia Federal, assim como os desmatadores e os garimpeiros em busca do ouro.
O local entre Atalia do Norte e Benjamin Constant fica dentro do Vale do Javari, em seu limite com a tríplice fronteira. A terra indígena foi demarcada em 2001 e é a segunda maior do Brasil. São 26 etnias e 6,3 mil índios -- entre eles 19 povos isolados, o que é considerada a área com maior presença de índios nessa condição.
Vivem ali índios Marubo, Kanamary, Kulina, Tsonhom Djapa, Matis e Mayoruna/Matsés, entre outros. Nos últimos anos, cresceram as denúncias ao Ministério Público Federal (MPF) de ameaças. Os locais vivem sob pressão de diversas frentes de invasores.
As buscas da PF concentraram-se no rio Itaquaí, na altura da "Boca do Ituí" até Santa Cruz, segundo registra relatório da polícia. "Foi realizada busca fluvial na região do Rio Itaquaí, último local de avistamento dos senhores Bruno Pereira e Dom Phillips. Foram percorridos cerca de 100km computando a calha do Rio Itaquaí e seus afluentes."
Todas as comunidades no percurso foram abordadas, especialmente as de Santa Cruz, Cachoeira, São Gabriel e São Rafael, diz a PF. "Além da busca fluvial, foi realizado um reconhecimento aéreo no itinerário de Atalaia do Norte até a base da FUNAI na entrada da terra indígena Vale do Javari."
No relatório que a PF enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF), constam os mapas em que foram concentradas as buscas e o local exato onde foi identificado vestígios dos desaparecidos.