Perito irá à cidade onde jornalista e indigenista desapareceram
Autoridades não descartam nenhuma linha de investigação sobre o sumiço de Bruno Araújo e Dom Phillips
Anderson Scardoelli
Um perito criminal foi escalado para ir até o município de Atalaia do Norte (AM) para analisar possíveis vestígios de sangue em material apreendido pela força-tarefa à frente das investigações sobre os desaparecimentos do indigenista Bruno Araújo e do jornalista britânico Dom Phillips. A informação foi divulgada pelo secretário de Segurança Pública do Amazonas, general Carlos Alberto Mansur, durante coletiva de imprensa realizada na tarde desta 4ª feira (8.jun), em Manaus (AM).
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O secretário, no entanto, afirmou que não poderia revelar qual o tipo de material foi apreendido, para não atrapalhar as investigações. Mansur pontuou, ainda, que testemunhas estão sendo ouvidas em comunidades ribeirinhas localizadas em Atalaia do Norte, onde Araújo e Phillips desapareceram no último domingo (5.jun).
O secretário de Segurança Pública não foi a única autoridade presente na coletiva de imprensa. Alessandro Albino (Departamento de Polícia Metropolitana), Coronel Orleilso Muniz (comandante do Corpo de Bombeiros), o general Cláudio Henrique da Silva Plácido (Coordenação de Operações do Comando Militar da Amazônia), o vice-almirante Ralph Dias (comandante do 9º Distrito Naval) e o delegado Eduardo Fontes (superintendente da Polícia Federal no Amazonas) também conversaram com a imprensa. Todos eles reforçaram que, por ora, nenhuma linha de investigação foi descartada.
Dessa forma, a força-tarefa em busca de Dom Phillips e Bruno Araújo avisou que trabalham com hipóteses que vão desde a possibilidade de problema com embarcação até ação criminosa, como homicídio. O delegado da PF admitiu, por exemplo, que a região é "muito perigosa", com "criminalidade intensa", sobretudo em questões relacionadas ao tráfico internacional de drogas. Cortada por rios, Atalaia do Norte está na fronteira do Brasil com o Peru (e próxima de área fronteiriça com a Colômbia).
Seis pessoas ouvidas e uma prisão
O secretário Carlos Alberto Mansur destacou, ainda, que foram ouvidas seis pessoas da comunidade onde a dupla desaparecida foi vista pela última vez. Ele reforçou que todas foram acompanhadas na condição de testemunhas. Um homem, porém, foi detido por posse ilegal de arma. A participação dele no sumiço do indigenista e do jornalista não foi confirmada. "Não fizemos a ligação dele com o caso de desaparecimento."
As autoridades reforçaram que as buscas por Dom Phillips e Bruno Araújo seguirão por tempo indeterminado. Atualmente, segundo o delegado Eduardo Fontes, a força-tarefa é composta por 250 homens, duas aeronaves, três drones, 16 embarcações e 20 viaturas.
Críticas ao governo brasileiro
A coletiva de imprensa, que serviu para registrar que nenhuma linha de investigação está descartada por enquanto, não foi o único movimento desta 4ª feira relacionado aos desaparecimentos de Araújo e Phillips. Em nota, a diretora do escritório brasileiro da Human Rights Watch, Maria Laura Canineu, teceu críticas diretas ao governo brasileiro. De acordo com ela, as investigações demoraram para serem intensificadas.
"O fato de as autoridades terem demorado mais de dois dias após o desaparecimento para autorizar as buscas aéreas é uma indicação de que o governo Bolsonaro não tem levado o caso com a devida seriedade", afirmou a líder da entidade em defesa dos Direitos Humanos. "Os últimos relatos das organizações indígenas envolvidas na busca -- de que o número de agentes e equipamentos empregados são extremamente insuficientes -- só reforçam essa conclusão", prosseguiu.
"Tem causado grande angústia para as famílias e entes queridos de Dom e Bruno."
Para Maria Laura, a história tem servido para mostrar ao mundo os problemas enfrentados na região amazônica. "A resposta claramente insuficiente do governo brasileiro tem causado grande angústia para as famílias e entes queridos de Dom e Bruno, e também para todas as pessoas engajadas em esforços para expor e enfrentar a violência e a destruição ambiental que assolam a Amazônia."