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Com falta até de dipirona, HC relata dificuldade para comprar remédios

Desabastecimento de remédios essenciais tem preocupado unidades da rede pública e privada de São Paulo

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No hospital ligado à Universidade Federal de São Paulo, familiares de pacientes fazem o possível para enfrentar um problema até então inimaginável dentro de uma instituição de saúde renomada: a falta de medicamentos e insumos médicos básicos.

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Juvenil está com filha internada há 2 meses, e conta que não mediu esforços para providenciar os materiais necessários para os cuidados com a jovem. A conta, porém, está ficando cada vez mais cara. "Já gastei mais de R$ 5 mil só de medicamento para ela aqui. Até os próprios médicos já falaram para gente: se for o caso, a gente tenta fazer uma vaquinha para comprar os medicamentos", diz o pai.

O filho de 2 anos da dona Ana fez uma cirurgia na cabeça, há 2 meses, e vive um drama ainda pior. "Eu vou comprar gaze, vou comprar atadura, para que meu filho não fique sem o curativo. Vou comprar os itens de assepsia. Falta até sabão, falta cloro", relata a mãe.

Nem mesmo o maior complexo hospitalar da América Latina conseguiu driblar o déficit no fornecimento de medicamentos. Nesta semana, o Hospital das Clínicas de São Paulo informou que tem enfrentado dificuldades para comprar o analgésico Dipirona e o antibiótico Amicacina. Outros remédios têm sido entregues de forma de parcial e também tiveram sua reposição comprometida.

O problema do desabastecimento já chegou até mesmo à rede particular. Segundo o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do estado de São Paulo, unidades de saúde públicas e privadas relatam a falta de medicamentos essenciais aos atendimentos, como a solução injetável de Dipirona, usada como analgésico, a Ocitocina, aplicada em partos, os antibióticos Amicacina e Gentamicina, a imunoglobulina humana usada no tratamento de problemas inflamatórios e a Neostigmina, aplicada em anestesias gerais.

A falta do anestésico, inclusive, tem preocupado um dos principais hospitais de Suzano, na Grande São Paulo. Uma ampola do anestésico custa R$ 2; já o substituto, R$ 500. "Se não se conseguir  um reajuste, nessas situações, pode ser que alguma cirurgia possa ser cancelada", conclui o diretor da unidade de saúde, Marcelo Carlos Godofredo.

Para a Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais, vários fatores podem justificar essa falta de medicamentos. Entre eles, a pandemia de covid-19, que levou ao fechamento de portos na China, país que é o principal fornecedor de insumos para a indústria farmacêutica.

O diretor da associação, Henrique Tada, argumenta que, para ajudar a reverter esse quadro, é preciso mudar a política de reajuste de preços no Brasil, que prevê apenas aumentos anuais, como o que aconteceu no mês passado. "Estamos em curso de uma consulta pública para revisar esse regulamento, mas está bem difícil de avançar. Nosso maior receio é não permitir que aconteça a ruptura do abastecimento, que é o mais importante", explicou.

Em nota, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que cuida da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), afirmou que remédios essenciais estão deixando de ser vendidos no país, o que tem gerado desabastecimento.

De acordo com a Anvisa, as empresas alegam desinteresse econômico por causa da política de preços praticada no Brasil e, por isso, defende o aprimoramento do atual modelo. A agência ressalta ainda que a descontinuação da fabricação ou importação de substâncias deve  ser comunicada com 6 meses de antecedência.

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