Caso Henry completa um ano sem culpados para o crime
Jairo e Monique, padrasto e mãe da criança, estão presos, mas ainda não há sentença final sobre o caso
Há exatos 365 dias as manchetes do país noticiavam a morte prematura de um garoto de apenas 4 anos. A vítima, Henry Borel, partiu. E deixou uma lacuna sobre o que ocorreu naquele dia. A Justiça ainda não definiu os culpados do crime.
No momento da tragédia, o pequeno estava sob os cuidados da mãe, Monique Medeiros, e do padrasto, o ex-vereador Jairo Souza Santos, conhecido como Dr. Jairinho, em um apartamento de luxo na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Câmeras de segurança do condomínio registraram o ex-político fazendo respiração boca a boca no enteado, enquanto a pedagoga o segura no colo. Não é possível afirmar se Henry ainda estava vivo.
A primeira versão para o crime seria a queda da criança de uma cama. Ao encontrarem o garoto no chão do quarto, com mãos e pés gelados, olhos revirados e sem responder aos chamados, o casal correu para um hospital. A equipe, no entanto, constatou o óbito antes mesmo da vítima dar entrada na unidade. O laudo médico indicou lesões no crânio, ferimentos internos e hematomas -- comprovado posteriormente não sendo causado por uma queda, mas sim por uma ação violenta.
Em 17 de março de 2021, Jairo e Monique prestaram o primeiro depoimento e confirmaram a tese de um acidente doméstico -- hipótese descartada pela perícia e reconstituição da noite no local do delito -- e negaram qualquer agressão a Henry.
A declaração, no entanto, entrou em confronto com a apresentada pela babá Thayná Oliveira Ferreira. Em relato, a funcionária assegurou ser de conhecimento da mãe as agressões sofridas pelo menor. Em pouco mais de 7 horas na delegacia, afirmou ter sido coagida pela patroa a mentir sobre a relação do ex-casal. No primeiro depoimento, em 24 de março, garantiu "não perceber nada anormal". No segundo, relatou, ao menos, três episódios de violência contra Henry.
Meses depois, em abril, a versão sobre o fatídico dia mudou. Em uma carta escrita a punho, a Monique afirmou viver um relacionamento conturbado com o ex-namorado. No documento, declarou, ainda, ter apanhado, sido ameaçada, além de narrar um episódio onde o garoto teria sido violentado pelo padrasto.
"Henry veio correndo até a cozinha uns 15 minutos depois que Jairinho chegou, dizendo que o tio tinha dado uma 'banda' nele e uma 'moca'", detalha.
Em dezembro, no único pronunciamento após ser preso, o ex-político reiterou a explicação dada à polícia, negou ter sido agressivo ou ser responsável pela morte do afilhado, além de levantar a possibilidade de Henry ter sido envenenado.
"Não houve agressão. Henry foi socorrido prontamente, o mais rápido possível, imagens de elevador mostra (sic) sem lesão, foi atendido, as médicas e o perito demonstram (...) inflamatório (sinal inequívoco de vida), chegou vivo, foi feito (sic) duas horas de massagem cardíaca e depois as médicas atestam o óbito, sem lesão e sem causa determinada. Se não houve lesão, não houve agressão. Isso foi visto por todos", declara.
Ainda no ano passado, Jairo teve o mandato cassado pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, além de perder os direitos políticos por oito anos.
O ex-cônjuge foi denunciado pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) pela prática de homicídio qualificado, tortura, coação de testemunha, fraude processual e falsidade ideológica.
O ex-parlamentar e a professora foram indiciados, ainda, pelas torturas praticadas contra o menino nos dias 2 e 12 de fevereiro do ano passado, no mesmo local onde foi morto. As agressões foram descobertas através de uma troca de mensagens recuperadas nos aparelhos de Monique e da babá Thayna de Oliveira Ferreira. De acordo com o órgão, nas ocasiões, Jairo submeteu o enteado "a intenso e desnecessário sofrimento físico e mental, como forma de aplicar-lhe castigo pessoal ou medida de caráter preventivo".
No dia 15 deste mês, está marcada uma nova audiência para determinar se o ex-cônjuge irá a júri popular.
Partida inesperada
Após passar um fim de semana na companhia do filho, Leniel Borel não imaginava ser uma despedida ao deixá-lo novamente na casa da ex-companheira. Horas após, a triste notícia da partida do pequeno chegou e tirou o chão do engenheiro.
O progenitor faz questão de acompanhar cada desdobramento sobre a investigação e tem convicção da participação de Jairo e Monique no crime, apesar de alegarem serem inocentes.
Pelas redes sociais, Leniel mostra aos seguidores como luta para suprir a saudade do garoto e a luta por Justiça.
Para o futuro, há o sonho de fundar uma organização não governamental (ONG) para vítimas de violência doméstica, além de batalhar para aprovar a Lei Henry Borel, para penalizar qualquer agressor ou pessoa omissa no cuidado dos filhos.