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Brasil

Elza Soares deixou disco inédito sobre situação política no Brasil

Em sua carreira, cantora interpretou contradições do país

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Elza Soares cantando (Reprodução/SBT Brasil)
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A cantora Elza Soares gravou um DVD no Theatro Municipal de São Paulo dois dias antes de morrer e deixou um álbum inédito. Em sua carreira, a "voz do milênio" interpretou as contradições de um Brasil que encanta e acolhe, mas também sofre com a pobreza e a desigualdade.

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"A carne mais barata do mercado é a carne negra", cantava Elza o que sofria na pele. Enfrentou o racismo, a violência doméstica, enterrou quatro filhos. "Fez da própria voz, a de muitos", como define Ricardo Cravo Albin, crítico musical e amigo da cantora. "Muito maior que uma perda pessoal minha, é a perda do Brasil, porque Elza Soares foi sobretudo um símbolo de resistência da raça negra, um símbolo de resistência à pobreza", afirma Ricardo.

Elza Soares não fraquejou nem com os limites que o tempo impôs. "Viajei de cadeira de rodas para cima e para baixo, mas não parei de trabalhar não", disse ela em uma entrevista. 

A sambista influenciou novos nomes da música popular brasileira, como o rapper Bnegão. O cantor foi convidado por ela para participar do álbum Planeta Fome, em 2019. "Ela já era gigante muito antes de eu nascer e ela teve várias fases gigantes, ela era uma fênix", fala Bernardo Santos.

Durante toda a carreira, a cantora lançou 34 discos. E, antes de partir, deixou o álbum inédito, com músicas que falam da crise política no Brasil. Na última década, foi aclamada em diversas ocasiões e recebeu em vida as homenagens que merecia, como o musical que leva o nome da cantora. Soares venceu na categoria "melhor espetáculo" do Prêmio Reverência de teatro musical, em 2018. Verônica Bonnfim atuou como uma das sete Elzas.

 "Quando a gente esteve na casa da Elza pela primeira vez, ela pegou no meu braço e disse 'essa história é muito séria'. Eu olhei para ela com muita certeza, não sei de onde tirei e falei: 'eu sei, Elza, e eu estou muito honrada'", relembra Verônica.

Ela era uma estrela dentro e fora dos palcos, admirada pelo público e por tantos amigos. "Elza Soares, alegria de viver. Luz infinita de um amor tão grande e de tantos ensinamentos", disse o rapper Criolo. "Perdemos a nossa maior sambista de todos os tempos. É uma tarde de janeiro triste. Vá em paz, Elza Soares", lamentou Alcione.

Outro amigo foi o rapper mineiro Flávio Renegado, que lançou três músicas com a cantora. Ele entendeu o que Elza Soares tentou dizer a vida toda: "Mais do que a saudade, fica o que ela deixou, que é para a gente nunca se calar".

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