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Jornalismo

FALSO: É falso que a ômicron seja uma invenção para mascarar as reações da vacina contra a covid-19

Confira a verificação realizada pelos jornalistas integrantes do Projeto Comprova

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Projeto Comprova/Divulgação
• Atualizado em
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FALSO: É falso que a variante ômicron não exista e seja um conceito criado apenas para esconder os efeitos adversos das vacinas contra a covid-19. Além de a nova cepa já ter sido identificada em dezenas de países, o que as autoridades de saúde têm reportado sobre ela é que os pacientes têm manifestado casos leves, não estando associada a miocardite, infarto fulminante ou AVC, como afirma vídeo que viralizou. No caso dos imunizantes, a Anvisa afirma que os episódios de miocardites são raros, leves e que as pessoas tendem a se recuperar após um curto período de tempo de tratamento padrão e repouso.

  • Conteúdo verificado: Em vídeo que circula pelo Whatsapp e pelo TikTok, uma mulher afirma que a variante ômicron foi inventada para que os efeitos adversos graves das vacinas sejam disfarçados.

São falsas as alegações de um vídeo viral, segundo o qual a variante ômicron seria uma invenção para encobrir efeitos adversos graves das vacinas contra a covid-19. Formada a partir de mutações do Sars-CoV-2, a nova cepa já foi identificada em ao menos 77 países, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Até agora, porém, os primeiros dados demonstram que ela provoca quadros mais leves de covid-19 do que variantes anteriores. Embora mais evidências precisem ser coletadas sobre a gravidade do quadro dos infectados, os casos de ômicron não estão relacionados a uma maior presença de miocardite, infarto fulminante ou AVC, sintomas citados no vídeo.

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Em nota enviada ao Comprova, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) diz que a possibilidade de alguns vacinados contra o novo coronavírus desenvolverem eventos adversos como miocardite e pericardite já é conhecida das agências reguladoras, estando descrita em bula e com os casos sendo acompanhados em cada país. A ocorrência é mais frequente em homens mais jovens, após a segunda dose da vacina. De acordo com a agência, porém, trata-se de um evento raro. "Geralmente são casos leves e os indivíduos tendem a se recuperar dentro de um curto período de tempo após o tratamento padrão e repouso", afirma.

Em entrevista ao Comprova, o médico José Cássio de Moraes lembrou que a miocardite já é um sintoma comum para pessoas infectadas pelo Sars-Cov-2, motivo pelo qual pacientes com problemas cardíacos são considerados grupo de risco. Pesquisa da Universidade de Oxford, no Reino Unido, aponta que a trombose é um risco maior entre quem se infecta do que entre os vacinados.

O Comprova considerou o conteúdo falso porque as informações foram inventadas.

Como verificamos?

Por email, entramos em contato com a OMS e a Anvisa sobre a situação da ômicron e sobre as possíveis reações provocadas pela vacina contra a covid-19. No site da Anvisa, listamos todos os efeitos das bulas dos imunizantes.

Também consultamos matérias publicadas na imprensa. Checagens anteriores do Comprova foram utilizadas no caso de alegações enganosas já esclarecidas.

Por fim, entrevistamos José Cássio de Moraes, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e integrante da rede Observatório Covid-19 BR.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 15 de dezembro de 2021.

Verificação

Identificação da ômicron

A variante ômicron foi registrada oficialmente pela primeira vez na África do Sul, em novembro de 2021. Ela possui um número significativo de alterações com relação a variantes anteriores, principalmente na proteína Spike, utilizada pelo coronavírus para invadir as células. Sua identificação coincidiu com um terceiro pico de infecções no país africano, o que levou as autoridades de saúde a alertarem a OMS.

Em 26 de novembro, um grupo de especialistas da organização analisou os dados disponíveis e decidiu classificá-la como "variante de preocupação". Isso quer dizer que ela pode se disseminar mais facilmente, causar doença mais severa, driblar a resposta imunológica, ter sintomas diferentes ou diminuir a eficácia das medidas conhecidas contra o coronavírus, como medidas de saúde, diagnóstico, tratamentos e vacinas.

O país de origem da nova variante pode mudar conforme as outras nações fazem análises e testes.

Ômicron: sintomas e infecções

Em uma coletiva de imprensa no dia 8 de dezembro de 2021, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, afirmou que ainda é muito cedo para tirar conclusões sobre o impacto da variante ômicron para os sistemas de saúde. Cientistas de todo o mundo analisam as informações disponíveis até o momento, e que não param de ser atualizadas, para compreender melhor os sintomas, a facilidade de transmissão e a capacidade de driblar a imunidade concedida por vacinas ou contaminação anterior.

Adhanom disse que a África do Sul registra um aumento rápido e consistente no número de casos. No entanto, a variante ômicron surgiu em um momento em que a variante Delta estava com baixa transmissão no país e é difícil saber como ela reagiria em outro local onde a Delta seja predominante. "Será importante monitorar de forma cuidadosa o que acontece em todo o mundo, para ver como essas duas variantes vão competir", falou.

Sobre a severidade da doença causada pela ômicron, Adhanom explicou que há algumas evidências de que ela causaria sintomas mais leves do que a variante Delta. No entanto, ainda é cedo para fazer esta afirmação com certeza. Somente com informações atualizadas dos quadros de infecção em cada país é que se poderá ter uma visão mais precisa.

Na manhã da segunda-feira, 13, o secretário de saúde do sistema público de saúde britânico, Sajid Javid, disse à emissora BBC que o número de contaminados pela ômicron dobra a cada dois ou três dias. Com isso, o governo do Reino Unido iniciou uma campanha de vacinação de reforço para todos os maiores de 18 anos que tenham tomado sua última dose há pelo menos três meses.

O primeiro-ministro, Boris Johnson, anunciou que morreu o primeiro paciente infectado com a variante ômicron no Reino Unido. Não foi informado o quadro de saúde anterior desta pessoa. Johnson sugeriu que pare de se falar em "versão mais leve do vírus" e que é preciso reconhecer a velocidade com que ele se espalha pela população.

Já no dia 14, Adhanom voltou a citar a nova variante. Disse que a OMS tem visto com preocupação a variante ômicron ser subestimada como uma doença leve. "Com certeza, aprendemos que só temos a perder ao subestimar este vírus. Mesmo que a ômicron de fato cause sintomas mais leves, o expressivo número de contaminações pode mais uma vez sobrecarregar sistemas de saúde que não estejam preparados."

Especialista

Ao Comprova, o médico José Cássio de Moraes afirmou que, até o momento, não há nenhum motivo para desconfiar da existência da ômicron. O especialista também contrapõe a tese de que a nova variante seria uma forma de esconder sintomas como miocardite, infarto e AVCs. "A variante ômicron aparentemente produz sintomas mais leves que as outras. Até sábado (dia 11 de dezembro), não tinha provocado nenhum óbito. O primeiro foi referido agora na Inglaterra. Na descrição dos casos, a miocardite não é mencionada até o momento", explica.

De acordo com o médico, o miocárdio é um dos locais atingidos pelo vírus da covid-19 por ter um receptor específico que pode ser acessado pelo invasor, assim como acontece com pulmões e rins. Por isso, pessoas com problemas cardíacos são consideradas como parte do grupo de risco.

Moraes também rebate a ideia de que a vacina não seja segura. "A vacina Pfizer nos Estados Unidos já teve mais de 400 milhões de doses aplicadas e, até sábado, estava associada a 1700 casos de miocardite, segundo dados do CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos), preferencialmente em adolescentes homens. Todos evoluíram bem e foram curados sem sequelas", lembra.

Reação das vacinas usadas no Brasil

Os efeitos adversos podem ser conferidos nas bulas dos imunizantes, disponíveis no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Confira abaixo:

CoronaVac: Reações possíveis são dor no local da aplicação, dor de cabeça, cansaço, além de enjoo, diarreia, perda de apetite, calafrios, tosse, dor nas articulações, coceiras, coriza e congestão nasal. Em casos menos frequentes (menos de 1% de quem é vacinado), pode ocorrer vômito, febre, vermelhidão, dor na garganta ou ao engolir, fraqueza muscular, tontura, dor abdominal, sonolência, mal-estar, cansaço, dor nas costas, vertigem, falta de ar, inchaço e hematomas no local da aplicação.

Janssen: As reações mais comuns são dor de cabeça, náusea, mialgia, fadiga e dor no local da injeção, bem como tosse, dor nas juntas, inchaço no local da aplicação, febre e calafrios. Em menos de 1% das pessoas imunizadas pode ocorrer tremores, espirros, irritação na pele, fraqueza muscular, dor no corpo e nas costas, mal-estar, urticárias. Em casos muito raros (menos de 0,01% das pessoas), pode ocorrer Síndrome de Guillain-Barré, trombose e baixo nível de plaquetas no sangue.

AstraZeneca: Os principais efeitos colaterais são dor, coceira, sensação de calor ou hematomas no local da aplicação, indisposição, fadiga, calafrios, febres, dor de cabeça, enjoo, dores nas articulações e dor muscular. Também pode ocorrer vômitos ou diarreias, dor nas pernas e braços, dor de garganta, coriza, tosse, sonolência, diminuição no apetite, dor abdominal, linfonodos aumentados e sudorese excessiva. Em casos muito raros (menos de 0,01% das pessoas), podem surgir coágulos sanguíneos e um nível baixo de plaquetas sanguíneas.

Pfizer: Reações mais comuns são dor e inchaço no local da injeção, cansaço, dor de cabeça, diarréia, dor muscular, dor nas articulações, calafrios, febre, vermelhidão no local da aplicação, náusea e vômito. Em menor grau (menos de 1% dos imunizados), também é possível ocorrer um aumento dos gânglios linfáticos, coceira, urticária, angioedema, diminuição do apetite, dor nos membros, insônia, letargia, suor excessivo, fraqueza, mal-estar e prurido no local de injeção. Em casos raros (ocorrem entre 0,01% e 0,1% das pessoas), é possível ocorrer paralisia facial aguda.

Trombose e miocardite são reações raras

No caso das vacinas da AstraZeneca e da Janssen, a Anvisa afirma que casos raros de trombose têm sido relatados em vários países, inclusive no Brasil. Esses eventos foram adicionados às bulas em julho.

A população deve ficar atenta e procurar um serviço de saúde em caso de sintomas como falta de ar, dor no peito, inchaço ou dor nas pernas, dor abdominal persistente, visão turva, confusão, convulsões, hematomas e manchas vermelhas no corpo e outras manifestações hemorrágicas. Ainda assim, a posição da agência é que "os benefícios dos referidos imunizantes superam os riscos e mantém a recomendação de continuidade da vacinação dentro das indicações descritas em bula".

Em julho, a agência norte-americana FDA relatou casos raros de inflamação no músculo cardíaco (miocardite) e no revestimento externo do coração (pericardite) associados à vacina da Pfizer. Geralmente ocorreram após a segunda dose, em adolescentes e adultos jovens do sexo masculino. A maioria dos casos foi leve.

A Anvisa então emitiu um aviso para que os vacinados procurem um atendimento médico se sentirem dor no peito, falta de ar e palpitações. Como os casos são raros e reagem bem ao tratamento, a recomendação de uso da vacina dentro das indicações em bula permanece. A Anvisa avalia que os benefícios da vacinação superam os riscos.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) também defende que os benefícios das vacinas são superiores aos riscos de miocardites. Isso porque, ao analisar dados de notificações nos EUA, ficou constatado que há 4 ou 5 casos de miocardites após o uso de imunizantes de mRNA para cada milhão de pessoas vacinadas. Na Europa, o risco de desenvolver trombose após a vacinação é de 1 a 8 casos para cada milhão de imunizados, segundo nota técnica do Ministério da Saúde.

Além disso, o risco de uma pessoa desenvolver trombose venosa cerebral é de 8 a 10 vezes maior entre pessoas que tiveram a covid-19 do que entre os vacinados, aponta um estudo da Universidade de Oxford, no Reino Unido, divulgado pela Fiocruz.

O Comprova já mostrou que não há nenhum indício de que casos de AVC, mal súbito ou infarto tenham aumentado pós-vacinação.

A autora do post

O vídeo foi gravado por uma mulher que se apresenta no Instagram como Daniela Schettino. Ela diz ser natural do Rio de Janeiro, e, segundo seu perfil no Linkedin, dá aulas de inglês desde os anos 1990. Atualmente mora em Portugal.

Ela usa seus perfis em redes sociais para espalhar desinformação sobre vacinas e teorias da conspiração, tema pelo qual afirma que começou a se interessar após os atentados ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001. O Estadão Verifica possui um guia de como identificar e rebater uma teoria da conspiração.

A Lupa já checou outro vídeo da mesma pessoa. A agência de checagem mostrou ser falso que vacinados viveriam apenas dez anos de vida após a imunização.

O Comprova tentou entrar em contato, mas ela não informa publicamente nenhum meio para isso.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado sobre a pandemia e políticas públicas do governo federal. O vídeo checado foi publicado em diversas plataformas como WhatsApp, Telegram e TikTok. Nesta última atingiu o maior número de usuários, com 33 mil visualizações.

Conteúdos falsos sobre as vacinas contra a covid-19 influenciam as pessoas a não se imunizar e enfraquecem os esforços das autoridades em saúde pública.

O Comprova já mostrou não haver relação entre as vacinas e casos de mal súbito em atletas. Também explicou porque é falso que órfãos da Polônia teriam sido usados em experimentos dos imunizantes.

Falso, para o Comprova, é conteúdo inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Investigação e verificação

Estadão e Sistema Jornal do Commercio participaram desta investigação e a sua verificação, pelo processo de crosscheck, foi realizada pelos veículos UOL, Correio de Carajás, O Popular, Folha, A Gazeta e SBT.

Projeto Comprova

Esta reportagem foi elaborada por jornalistas do Projeto Comprova, grupo formado por 33 veículos de imprensa brasileiros, para combater a desinformação. Em 2018, o Comprova monitorou e desmentiu boatos e rumores relacionados à eleição presidencial. A edição de 2019 foi dedicada a combater a desinformação sobre políticas públicas. Agora, na quarta fase, o Comprova retoma o monitoramento e a verificação de conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal e eleições municipais, além de continuar investigando boatos sobre a pandemia de covid-19. O SBT faz parte dessa aliança.

Desconfiou da informação recebida? Envie sua denúncia, dúvida ou boato pelo WhatsApp 11 97045 4984.

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