A busca de Bolsonaro por partido: "Ele vai ter que se resignar"
Entre a escolha de um partido nanico ou um outro sem tanta coesão ideológica, diz especialista
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) colocou em xeque a sua filiação ao PL durante sua viagem aos Emirados Árabes. Sem partido, e com menos de um ano para as eleições de 2022, há pressa do Palácio do Planalto para conseguir acomodar o presidente em alguma sigla.
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Para Lucas Fernandes, analista político da BMJ, a escolha do PL é estratégica. "É uma sigla que já tem um número bem robusto de parlamentares e que vai ter acesso privilegiado ao fundo de financiamento público das eleições e também ao tempo de rádio e TV", destacou o especialista. Em entrevista ao Agenda do Poder, Fernandes explicou que, no entanto, o PL é um partido do Centrão, bloco político atacado pelo presidente Jair Bolsonaro e sua família.
"Não precisa ir muito atrás da linha do tempo do governo pra recuperar frases muito prejudiciais e muito incisivas do presidente e dos seus familiares contra as siglas do Centrão. E pra citar só um exemplo, Carlos Bolsonaro, filho do presidente, vereador no Rio de Janeiro, teve que apagar uma publicação em suas redes sociais, de 2016, que atacava diretamente o PL e o Valdemar da Costa Neto, presidente do partido", afirmou.
No entanto, mesmo não tendo relações positivas com os partidos de Centro, Bolsonaro precisa de uma sigla para disputar as eleições de 2022, já que a legislação eleitoral não permite candidaturas independentes. Para Lucas Fernandes, o desafio na busca do partido de Bolsonaro é grande, já que há pouco tempo e poucas siglas. Além disso, o atual presidente precisa se sentir no controle do partido e dos diretórios, de acordo com o especialista. "Pro Bolsonaro é importante ter controle do partido e ele vai ter dificuldade em conseguir isso em uma série de siglas", destacou.
Outro ponto é que os partidos de Centro não possuem grande coesão ideológica, que, além do controle dos diretórios, é um importante elemento procurado por Bolsonaro. Os dois requisitos só devem ser encontrados em partidos muito pequenos, conhecidos como "nanicos". "Bolsonaro só conseguiu fazer isso com o PSL, em 2017, quando ele se filiou para disputar as eleições. O PSL era um partido que só tinha um único deputado federal na Câmara. Não dá para fazer isso com o PL, que tem mais de 40 deputados eleitos, tem alianças muito consolidadas em muitos estados", disse.
Para o analista, o presidente Bolsonaro vai precisar se resignar e fazer uma escolha entre a estratégia e a ideologia. "Ou escolher um partido nanico, que vai dar pouco tempo de TV, que vai dar pouco acesso a recurso público de financiamento ou ir para um partido maior e abrir mão de algumas restrições como o fato de que deputados fiquem mais livres para apoiar desafetos do presidente em algumas regiões", destacou Lucas.
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