Bienal de São Paulo abre sua 34ª edição neste sábado
Intitulada "Faz escuro, mas eu canto", mostra completa 70 anos com recorde de artistas indígenas
Helena Fernandes
Depois de ter sido cancelada em 2020, em razão da pandemia de covid-19, e passar por uma reformulação, a Bienal de São Paulo -- maior mostra de artes da América Latina -- abre sua 34ª edição neste sábado (4.set), às 10h. Intitulada "Faz escuro, mas eu canto", a exposição foi readequada ao momento pandêmico, com rígidos protocolos definidos em conjunto com o Hospital 9 de Julho e área de alimentação instalada do lado de fora do Pavilhão, em espaço aberto.
O título desta mostra, que teve a primeira edição em 1951, é uma homenagem ao poema Madrugada Camponesa (1965), do amazonense Thiago de Mello. Segundo José Olympio da Veiga Pereira, presidente da Fundação Bienal de São Paulo, ao longo dos últimos 70 anos, as Bienais de São Paulo adaptaram-se aos tempos, e é justamente sua capacidade de mudança e sua abertura ao novo que asseguraram que a mostra mantivesse sua relevância artística e cultural.
Para essa mostra que tem de tudo -- de pintura a instalações, passando por performances, vídeos e uma inusitada experiência conjunta com outras instituições artísticas da cidade, de museus a galerias --, foram selecionadas mais de 1.100 obras de 91 artistas. Segundo o curador geral, Jacopo Crivelli Visconti, "desde que o anteprojeto da 34ª Bienal foi escrito, há quase três anos, o tempo dilatado que havíamos imaginado para a Bienal se tornou muito mais do que uma ferramenta curatorial: se tornou parte da vida de cada um. E esse tempo dilatado ecoava, para nós, o desejo de apresentar as obras e os artistas, mas também o processo de construção da própria exposição. Por isso o esforço, constante e constantemente reformulado, de pensar e repensar a exposição publicamente, de não deixar de falar do que havíamos planejado, do que seguiu conforme o plano e do que se transformou, do que se tornou outra coisa". O time de curadores reúne outros nomes como Paulo Miyada (curador-adjunto), e Carla Zaccagnini, Francesco Stocchi e Ruth Estévez (curadores convidados).
Entre os destaques da Bienal estão quadros de um dos mais influentes artistas do século passado, o italiano Giorgio Morandi (1890-1964), quadros de Lasar Segall, obras indígenas dos povos do Maranhão, o artesanato das índias de Minas Gerais, e as pinturas do artista nascido na região hoje demarcada como a Terra Indígena Raposa Serra do Sol Jaider Esbell chamada A Guerra dos Kanaimés (2020), que se relaciona aos conflitos que seu povo, os Macuxis, e outras etnias indígenas travaram.
Além da arte indígena, a Bienal traz elementos enunciados, peças que não são obras de arte, mas possuem histórias marcantes, capazes de sugerir leituras às obras dispostas ao seu redor. O primeiro enunciado a ser encontrado pelo visitante, no térreo, é composto por três objetos pertencentes ao acervo do Museu Nacional que sobreviveram de diferentes formas ao incêndio: o meteorito Santa Luzia, que, temperado por sua viagem pelo espaço sideral e pela entrada na atmosfera terrestre, permaneceu incólume; uma ametista (um tipo de quartzo roxo) que, ao passar muito tempo exposta à altíssima temperatura, adquiriu a coloração do citrino (um quartzo amarelo); e uma ritxòkò, boneca que foi doada ao Museu Nacional após o incêndio por Kaimote Kamayurá, da aldeia Karajá de Hawaló, na Ilha do Bananal (TO), para substituir uma que havia sido destruída pelas chamas e ajudar na reconstituição da coleção. Reunidos, esses 3 objetos nos mostram como resistir pode tomar diversas formas.
No segundo andar do pavilhão, o visitante se depara com a instalação Paisagem (2021), de Regina Silveira, que é uma veterana e já participou de outras edições nos anos de 1957, 1981, 1983 e 1998. A obra é uma espécie de labirinto, em que as placas de vidro que a compõem parecem estilhaçadas por balas.
Algumas instalações remetem à construção da extensão da realidade, como a obra de Daniel de Paula chamada Circulação (2019). O suporte utilizado nela são 24 painéis de LED, que têm seu funcionamento ditado por um processador, que endereça a cada tela um "pedaço" da imagem. O caráter fragmentário, que se desdobra para o que é visto, nos leva a pensar sobre a ideia de paisagem.
Nesta edição da Bienal, o público poderá conferir um número maior de exposições paralelas que acontecem no MAM, no MAC, no Museu Afro e no Centro Cultural São Paulo, além da mostra principal, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo. "Assim como o que se vê dentro do Pavilhão da Bienal reverbera exposições que se relacionam com diferentes contextos urbanos, diversas obras da mostra convivem com o cotidiano do parque, ora integrando-se à sua paisagem, ora refletindo o seu papel como espaço icônico e simbólico", explica Paulo Miyada, curador adjunto desta edição. A visitação se estende até 5 de dezembro.
No MAM, por exemplo, o destaque é a mostra de Jaider Esbell, "Moquém_Surarí: arte indígena contemporânea?, uma correalização entre o MAM e a Bienal de São Paulo, com curadoria de Jaider Esbell e Moderno onde? Moderno quando?, com curadoria de Aracy Amaral e Regina Teixeira de Barros.
Audioguia inclusivo da 34ª Bienal
A inclusão é uma das preocupações dessa edição da Bienal, por isso estará disponível ao visitante com deficiência um audioguia que passa por 20 obras de arte e objetos que compõem a mostra. Ao seguir o percurso proposto, o visitante é levado a todos os andares do pavilhão. Cada uma das faixas apresenta histórias relacionadas às obras, comenta processos dos artistas e descreve as peças. Como é um audioguia inclusivo, ele também está disponível em Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Além das visitas mediadas inclusivas e do audioguia inclusivo 34ª Bienal, há outras iniciativas de inclusão, todas planejadas com o apoio da consultoria especializada em acessibilidade Mais Diferenças.
E para comemorar o aniverário de 70 anos da mostra, a Fundação Bienal lançou uma série de produtos comemorativos, como o o podcast Bienal, 70 anos, uma coprodução da Fundação Bienal de São Paulo e do UOL; o curta-metragem Arquivo Histórico Wanda Svevo: o passado em perpétua construção; e a reedição da Linha do tempo da Bienal de São Paulo. As comemorações dos 70 anos de Bienais de São Paulo se estenderão até 2022, quando será lançado um livro de ensaios inéditos, comissionados para uma publicação com organização de Paulo Miyada, e um longa-metragem documental sobre a história da mostra dirigido por Carlos Nader e realizado em parceria com o Itaú Cultural.
Serviço
34ª Bienal de São Paulo - " Faz escuro, mas eu canto "
De 4 de setembro a 5 de dezembro de 2021
Ter, qua, sex, dom e feriados: 10h - 19h (entrada até 18h30)
Qui, sáb: 10h - 21h (entrada até 20h30)
Fechado às segundas
Entrada gratuita
Acesso mediante apresentação de comprovante de vacinação contra covid-19, impresso ou on-line;
Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera - Av. Pedro Álvares Cabral, s.n. Parquê Ibiraquera, portão 3 , São Paulo, SP.