Entrevista: Denise Pires de Carvalho
Reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Fernando Jordão
De que forma os cortes afetam a UFRJ?
Em 2020, nós já tivemos nosso orçamento cortado com relação a 2019. O orçamento das universidades vem sendo cortado ano a ano. Nos adequamos ao orçamento de 2020, recebemos em 2020 uma verba suplementar do MEC para enfrentamento da covid, e, neste ano de 2021, fomos surpreendidos com um corte de mais de 20% no orçamento em relação ao ano passado além de não ter a verba suplementar. É uma perda que gira em torno de R$ 120 milhões. Nosso orçamento previsto e aprovado é de R$ 299 milhões. Uma parte estava supervisionada, o governo liberou, mas bloqueou 13,8%, equivalente a R$ 41 milhões.
Há o risco de interrupção das atividades?
A estimativa é de que a UFRJ só consiga funcionar pagando seus contratos até setembro. Outubro, novembro e dezembro ficam sem orçamento para que possam pagar os contratos, o que é muito ruim. Em um ano em que a pandemia perdura, mas estávamos prevendo o retorno de aulas práticas daqui a um a dois meses. O retorno ao presencial fica comprometido.
O que pode ser comprometido?
No momento, estamos com apoio do Ministério da Saúde mantendo os leitos covid abertos, complementando pagamento de pessoal para manter os 80 leitos. Para que esse atendimento continue, não é só questão de pessoal, precisamos de limpeza. Os contratos de limpeza podem ser afetados. Se não conseguirmos, teremos que fechar leitos. Temos um centro de triagem e diagnóstico de coronavírus, que realiza 50 mil exames. Viemos trabalhando diariamente, atendendo a sociedade. Mas, infelizmente, o centro está ameaçado de fechar por não termos como garantir insumos. Não vamos parar o ensino remoto, ele continua. Mas, para se ter uma ideia, há cerca de 4 mil alunos que, para se formarem, precisam de ensino prático presencial e nós não vamos conseguir colar grau desses estudantes. Daqui para o final do ano, podemos chegar a 10 mil estudantes nessa situação.