Entrevista: Márcia Abrahão Moura
Reitora da Universidade de Brasília (UnB)
Fernando Jordão
De que modo os cortes impactam a UnB?
Em 2017, [o orçamento] era 45% menor do que em 2016. Desde que assumi [em novembro de 2016], essa tem sido a realidade, infelizmente. Fizemos diversos ajustes nos contratos, alguns bastantes doloridos, redução de contrato de limpeza, no Restaurante Universitário tivemos que rever preços, e temos investido muito em eficiência energética, a UnB hoje é a universidade federal com o maior parque de energia fotovoltaica do Brasil. É um lado trabalhando na eficiência e fazendo ajustes. Mas vai chegando ao limite. A gente já começa o ano com 40% só do orçamento. Além disso, neste ano, o presidente fez vetos no orçamento que já estava 18% menor nas universidades federais. O da UnB ficou 5% menor. A UnB ficou com zero de recursos de investimento do Tesouro neste ano. A gente não pode nem comprar livro, computador, que são investimentos. Então, os impactos são enormes.
Há o risco de as atividades serem paralisadas?
A UnB não vai parar, vai continuar fazendo ensino, pesquisa e extensão de excelência. Se for necessário, vamos postergar algumas despesas no segundo semestre. Mas vamos fazer o que fazemos de melhor. Estamos trabalhando para reverter a situação [do corte orçamentário]. Temos um trabalho a ser feito junto ao Congresso Nacional, ao Ministério da Educação para reverter. Temos uma situação que é a seguinte: nossos recursos de investimento [para a compra de materiais] foram, em 2017, R$ 24,7 milhões; em 2018, R$ 8,2 milhões; em 2019, R$ 5,2 milhões; em 2020, R$ 5 milhões; em 2021, R$ 0.
Como seria possível postergar essas despesas?
Na assistência estudantil, por exemplo, nós não reduzimos as bolsas. Mas, com as constantes reduções, a gente não consegue colocar novos estudantes no sistema. Ainda mais nessa situação de crise econômica. Contrato de limpeza também nós não vamos reduzir. Só que precisaria aumentar por causa da pandemia.
Qual a sua avaliação sobre esses cortes?
Em todos os países do mundo, o que está se fazendo é investindo mais em educação. Todo o mundo está em crise, não é só o Brasil. O que se faz em uma situação de crise é investir mais em educação, ciência e tecnologia, porque é ali que você vai ter a resposta para os seus problemas. Pode não ser imediata, mas quais países saíram na frente nas vacinas? Quem estava investindo em ciência. Países como o Brasil acabam pagando mais caro. É falta de visão de país.
Essas reduções começaram em que ano?
É uma curva que vem crescendo desde 2000, atinge um pico em 2015, e em 2016 começa a cair. Na crise de 2008, o Brasil não reduziu investimento, mas na de 2015, sim. Desde então, caiu, mas muito mais fortemente no atual governo. Se acentuou, mas não começou agora. De 2014 para 2021, a queda no orçamento foi de 70%. O crescimento de alunos na última decada, de 2012 para cá, foi de 25%. Mas a universidade há 59 anos resiste e vai continuar.