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Um ano do massacre em Paraisópolis; ninguém foi indiciado

Detalhes da investigação obtidos com exclusividade pelo SBT apontam que a comunicação entre os policiais e o comando da PM foi interrompida durante a confusão

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Agência Estado
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Um ano após nove jovens serem mortos durante a ação da polícia militar em um baile funk na favela de Paraisópolis, em São Paulo, 31 policiais envolvidos no caso continuam afastados mas ninguém foi indiciado até o momento. Nesta terça-feira (1.dez) um ato ecumênico foi realizado na favela pedindo justiça pela memória das vítimas.

O Jornalismo do SBT teve acesso à investigação do departamento de homicídios, que está sob segredo de justiça. Uma das provas mais importantes do processo é a comunicação via rádio entre o comando da PM e os policiais que estavam na favela na madrugada de 1º de dezembro de 2019.

Segundo consta no documento, às 3h41, policiais afirmaram ter visto "indivíduos em uma moto preta". Um minuto depois, disseram que a equipe foi alvo de disparos e pedem apoio. Às 3h44, avisaram que uma multidão estaria "se evadindo" da viatura, o que significa que o grupo estaria fugindo. Três minutos depois, afirmam que não há novidades. Já às 3h48, reiteram que houve disparos vindos da moto preta. Durante sete minutos, são registradas 23 chamadas entre os PMs. De repente, a comunicação parae os policiais voltam a falar apenas 21 minutos depois. Foi durante este intervalo que aconteceu toda a confusão.

Às 4h09, uma viatura do bairro pede "certa prioridade" para um resgate. Dois minutos depois, dizem que ninguém foi baleado, mas que há 10 pessoas desacordadas. Só depois o número é corrigido. Sem notícias do resgate, policiais sugerem socorrer as vítimas usando a viatura. A autorização do comando da PM chega 5 minutos depois. A troca de mensagens mostra que os jovens esperaram por ajuda médica por mais de meia hora.

O GPS das viaturas estava desligado. Sobre esse detalhe e sobre o período em que não houve comunicação pelo rádio, os policiais militares investigados disseram, em depoimento, que o sinal dos equipamentos da PM falhou naquele momento e alegam que agiram em legítima defesa, o que será questionado pela promotoria, que se baseia nas regras do procedimento operacional padrão da polícia para afirmar que os policiais não consideraram os altos riscos daquele tipo de ação.

Assista:

 

Até hoje os supostos atiradores não foram identificados e nem a moto foi encontrada.

Os policiais militares afirmam que a confusão começou depois que homens em uma moto atiraram contra uma viatura. Já dezenas de testemunhas ouvidas no processo afirmam que os policiais fecharam os acessos às ruas onde acontecia o baile e a multidão, de cerca de cinco mil frequentadores, ficou encurralada. Nenhuma testemunha viu a moto citada pelos policiais. O laudo apontou que as mortes dos jovens, que tinham 14 e 23 anos, ocorreram por asfixia. Um deles tinha sinais de pisoteamento. 

Fernando Capano, advogado de 20 policiais afirma que "as mortes ocorreram em razão dessa correria ocasionada por esses dois indivíduos que atiraram, inclusive contra os policiais, nessa motocicleta que entrou no fluxo do baile".

Dois inquéritos correm paralelamente: um na justiça comum e outro, na militar. A corregedoria da PM sugeriu que o caso fosse arquivado mas o promotor militar pediu novas provas. "Nós vamos fazer uma reanálise de todo o conteúdo daquilo que foi coletado por último, por parte da autoridade encarregada e vamos deliberar eventualmente a tomada de outras providências", disse Edson Correa Batista, promotor de justiça militar. 






 
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