Abelhas no Brasil pós-tragédias
Enchentes e queimadas estão dizimando populações de abelhas e comprometendo a polinização no país

Alessandra Bergmann
Muitas pessoas associam as abelhas à produção de mel, mas a função principal desse inseto na natureza é a polinização. Nas flores, as abelhas captam o pólen, em uma jornada fundamental para a produção de alimentos.
Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), cerca de 70% das culturas agrícolas e 85% das plantas com flores presentes nas matas e florestas dependem da polinização das abelhas.
Isso inclui árvores frutíferas, como castanha e laranja, grãos como café e canola, e até plantas medicinais. Além disso, as abelhas produzem muito mais do que mel: há a própolis, o pólen, a geleia real e a cera de abelha, produtos de alto valor nutricional e terapêutico.
O Brasil tem mais de 350 mil produtores de mel. A atividade gera emprego e renda, ajuda na diversificação da propriedade rural e beneficia muito o meio ambiente, pois as abelhas são essenciais para o equilíbrio dos ecossistemas e para a vida de todos nós.
Isso vale tanto para a Apis mellifera (a espécie mais comum) quanto para as abelhas sem ferrão, que são menores e, como o nome indica, não possuem ferrão. Os principais municípios produtores de mel são Arapoti e Ortigueira, no Paraná.
No maior estado produtor do Brasil, o Rio Grande do Sul, as enchentes provocaram a morte de 6 bilhões de abelhas, e a produção de mel caiu 70%.
Nas últimas semanas, as queimadas florestais também preocupam o setor, pois, com a destruição da vegetação, as abelhas, assim como outros insetos, morrem de fome.
A contaminação da água causada pelas chamas é outro problema. A perda das abelhas pode levar ao declínio da polinização e à redução das sementes de plantas que dependem exclusivamente das abelhas para se reproduzirem.
No Mato Grosso, estado que mais sofreu queimadas desde janeiro, os incêndios estão devastando as principais fontes de alimento das abelhas, como o néctar e o pólen, encontrados nas plantas nativas da região, afetando diretamente as colmeias.

No interior de São Paulo, a onda de incêndios já destruiu apiários e chegou a níveis críticos, comprometendo a produção de mel e a polinização das plantas. Produtores estimam que milhões de abelhas morreram por não resistirem à fumaça e ao calor, e veem o trabalho de uma vida inteira desmoronar.
As abelhas que conseguem buscar novos locais para viver podem se dirigir para áreas urbanas, onde encontram refúgio, segurança e alimentação, o que pode resultar em encontros indesejados.
A orientação dos bombeiros é: NÃO tente remover, usar fumaça, inseticida ou qualquer tipo de veneno. Feche portas e janelas e se afaste o máximo que puder. Proteja pescoço, rosto e cabeça, as regiões mais sensíveis em caso de ataque.
Matar abelhas é crime ambiental, com pena de 6 meses a 1 ano de prisão, além de multa. O melhor é chamar os bombeiros.
Assim que a situação estiver controlada, será necessário apoiar e incentivar os criadores afetados pelas ocorrências climáticas, para que consigam retomar suas atividades e sigam firmes, tanto na apicultura quanto nas demais áreas da agricultura e pecuária.








