Saúde

Gases intestinais: o que é normal e quando é hora de procurar um médico

Entenda por que surgem os gases, como o corpo os produz, por que alguns têm cheiro mais forte e quando é preciso investigar

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Produzir gases é uma função natural do organismo e faz parte do processo digestivo | Reprodução/Pexels

Produzir gases é uma função natural do organismo e faz parte do processo digestivo. Estimativas fisiológicas mostram que o intestino produz entre 400 ml e 1,5 litro de gases por dia, variando conforme a alimentação, a microbiota e o trânsito intestinal. Embora seja um fenômeno fisiológico, a intensidade, o odor e a frequência podem refletir como anda a saúde intestinal e a tolerância individual a certos alimentos.

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A flatulência é resultado direto da fermentação de carboidratos não absorvidos no intestino grosso. A microbiota intestinal – conjunto de trilhões de bactérias – decompõe fibras e carboidratos fermentáveis (como FODMAPs), liberando hidrogênio (H2), dióxido de carbono (CO2) e, em algumas pessoas, metano (CH4). Pequenas quantidades de compostos de enxofre, embora produzidas em menor proporção, são responsáveis pelo odor mais forte em alguns casos.

Parte dos gases também vem do ar engolido (aerofagia) durante a alimentação, mastigação acelerada, fala, ansiedade ou consumo de bebidas gaseificadas. Embora parte desse ar seja eliminada por eructação (termo médico para o arroto), uma fração chega ao intestino.

Principais causas da flatulência

  • Alimentos altamente fermentáveis, como feijão, lentilha, grão-de-bico, brócolis, couve-flor, cebola, alho e alimentos ricos em frutanos ou galactanos;
  • Aumento abrupto de fibras, especialmente farelos e cereais integrais – o problema é a quantidade e a velocidade do aumento, mais do que a fibra em si;
  • Adoçantes poliol (sorbitol, xilitol, manitol), comuns em produtos "zero açúcar";
  • Intolerância à lactose; já a chamada sensibilidade ao glúten frequentemente está relacionada aos frutanos do trigo, e não ao glúten em si;
  • Síndrome do intestino irritável (SII) – não necessariamente aumenta a produção de gases; o problema maior é a hipersensibilidade visceral e a dificuldade de eliminação, amplificando a sensação de distensão;
  • Ansiedade, que aumenta a aerofagia e altera o trânsito intestinal;
  • Uso recente de antibióticos, que pode modificar temporariamente a microbiota intestinal;
  • Sedentarismo, que reduz a movimentação do intestino;
  • Constipação, que aumenta a fermentação e favorece a retenção de gases;
  • Excesso de frutose (suco, mel, frutas em grandes quantidades) ou polióis naturais de algumas frutas.

Por que alguns gases têm cheiro mais forte

O odor forte não significa maior produção de gases, mas sim maior concentração de compostos sulfurados. Esses compostos aparecem quando o intestino fermenta alimentos ricos em enxofre, como ovos, carnes, repolho, cebola e alho.

Alterações transitórias na microbiota, trânsito intestinal lento ou dietas muito ricas em proteína animal podem modificar o perfil de gases. No entanto, odor forte isolado não caracteriza disbiose – termo amplo que ainda não tem marcador diagnóstico claro na prática clínica.

Quando a flatulência deixa de ser normal

Embora seja natural, a flatulência persistente ou acompanhada de sintomas adicionais pode indicar alterações no sistema digestivo. É importante investigar quando há:

  • Dor abdominal intensa ou inchaço que não melhora;
  • Diarreia frequente, urgência evacuatória ou sensação constante de estufamento;
  • Alternância entre constipação e diarreia;
  • Perda de peso involuntária;
  • Odor muito acentuado e persistente, associado a mudança alimentar mínima;
  • Gases associados a refluxo, náusea ou sensação de má digestão;
  • Início recente após novo medicamento, antibiótico ou mudança alimentar relevante;
  • Sangue nas fezes, anemia ou história familiar de câncer colorretal/ doença celíaca.

Condições como intolerância à lactose, doença celíaca, diarreia por FODMAPs, supercrescimento bacteriano (SIBO) em casos selecionados, gastroparesia e síndrome do intestino irritável podem estar por trás da piora dos gases. A avaliação médica orienta os exames adequados e diferencia causas alimentares de causas funcionais ou inflamatórias.

Como reduzir a produção de gases no dia a dia

Algumas medidas simples contribuem para um funcionamento intestinal mais equilibrado:

  • Mastigar bem os alimentos e comer mais devagar;
  • Evitar falar enquanto come e reduzir bebidas gaseificadas;
  • Observar alimentos que causam desconforto e ajustar a dieta de forma personalizada;
  • Moderar o consumo de adoçantes poliol;
  • Praticar atividade física regular para estimular o movimento intestinal;
  • Evitar longos períodos sem evacuar e tratar constipação de forma contínua;
  • Avaliar intolerâncias alimentares com orientação profissional;
  • Uso de probióticos apenas quando bem indicados, pois seus efeitos são cepa-específicos e não corrigem disbiose de forma genérica.

Embora a flatulência faça parte da rotina do corpo humano, compreender seus mecanismos e identificar quando ela foge do padrão ajuda a manter a saúde digestiva em equilíbrio. Em casos persistentes, a orientação do clínico geral ou do cirurgião do aparelho digestivo é fundamental para definir a melhor abordagem.

*Dr. Antonio Couceiro Lopes (CRM/SP 100.656 | RQE 26.013) é cirurgião do aparelho digestivo e membro da Brazil Health.

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