Saiba o que comer para turbinar o cérebro e manter o foco mesmo sob estresse
Entenda como ajustar refeições, hidratação e horários para proteger a mente e sustentar energia e produtividade em rotinas puxadas


Brazil Health
Vivemos a era das supermentes, um tempo em que somos exigidos a decidir rápido, produzir em alta intensidade e sustentar o foco por longas horas. Líderes, médicos, executivos, criadores e empresários vivem sob uma carga mental altíssima, muitas vezes invisível. O cérebro, nesse contexto, tornou-se o órgão mais exigido e, paradoxalmente, o mais negligenciado.
É justamente aí que a alimentação assume um papel fundamental. Assumir o comando do que seu corpo precisa é nossa autorresponsabilidade, inscrita na fisiologia humana. Não se trata apenas de "comer para ter energia", mas de compreender que cada refeição é um ajuste fino na química cerebral.
O cérebro representa apenas 2% do peso corporal, mas consome cerca de 20% de toda a energia produzida pelo organismo. Sob estresse, essa demanda aumenta e, quando os nutrientes certos não chegam, o resultado é previsível: queda de performance, oscilações de humor, lapsos de memória e perda de clareza mental.
Estudos recentes publicados no Journal of Nutritional Neuroscience e no American Journal of Clinical Nutrition reforçam que dietas ricas em antioxidantes, vitaminas do complexo B, ácidos graxos ômega-3 e polifenóis estão associadas à melhora da cognição e à proteção neuronal em situações de estresse prolongado. Esses nutrientes atuam diretamente na regulação dos neurotransmissores, na modulação do estresse oxidativo e na integridade das membranas neuronais, fatores decisivos para manter o raciocínio, a concentração e o equilíbrio emocional.
Entre os nutrientes mais importantes para o cérebro sob pressão estão:
· Magnésio e vitamina B6: ajudam a reduzir a liberação excessiva de cortisol (hormônio do estresse) e estimulam a produção de serotonina e dopamina, essenciais para o foco e o bem-estar. Fontes: castanhas, banana, abacate, aveia e vegetais verde-escuros.
· Ômega-3 (EPA e DHA): tem efeito anti-inflamatório e modula as sinapses neurais, favorecendo memória e aprendizado. Fontes: peixes gordos como salmão, sardinha e atum, além de linhaça e chia.
· Colina e fosfatidilserina: fundamentais para a formação de neurotransmissores e a manutenção da memória. Fontes: ovos inteiros, fígado e leguminosas.
· Polifenóis e flavonoides: compostos bioativos que reduzem o estresse oxidativo e estimulam a neuroplasticidade, a capacidade do cérebro de se adaptar e se regenerar. Fontes: cacau puro, chá verde, cúrcuma, frutas vermelhas e mirtilo.
Esses alimentos, aliados a boas fontes de proteína e gorduras de qualidade, ajudam a estabilizar a glicose e a manter o raciocínio linear ao longo do dia.
A era das canetas e o novo desafio cerebral
Vivemos também o que chamo de "era das canetas", uma fase marcada pelo uso crescente de medicações que modulam o apetite e o metabolismo da glicose, como os agonistas de GLP-1 e GIP. Essas terapias representam um avanço notável no tratamento da obesidade e da resistência insulínica, mas trazem um novo desafio: a adaptação do cérebro a uma menor disponibilidade energética.
Mesmo sem provocar hipoglicemia, é comum que algumas pessoas relatem queda de energia, menor produtividade ou lentidão mental. O motivo é simples: a glicose é o principal combustível do cérebro, e qualquer variação em sua oferta pode influenciar o desempenho cognitivo.
O corpo passa a economizar energia e, nesse processo, o cérebro pode "desacelerar". Por isso, mais do que nunca, é indispensável um ajuste personalizado da alimentação e da suplementação.
Em um cenário de grande demanda mental e emocional, o acompanhamento profissional é essencial para evitar deficiências nutricionais e preservar a clareza cognitiva. Não se trata apenas de emagrecer, mas de manter o cérebro conectado em uma sociedade hiperconectada.
Ritmo e clareza: o poder da crononutrição e da hidratação
A crononutrição, que estuda a relação entre o horário das refeições e o metabolismo, mostra que comer nas primeiras horas do dia melhora o desempenho cerebral e reforça o ritmo circadiano, o relógio interno que regula energia, sono e disposição.
Da mesma forma, a hidratação adequada é indispensável: pequenas reduções no volume de água corporal já são suficientes para afetar o humor, a atenção e a tomada de decisões.
Cuidar do cérebro é cuidar do corpo inteiro. A verdadeira alta performance nasce do equilíbrio entre alimentação, descanso, movimento e propósito.
Quando o cérebro está bem nutrido, as ideias fluem, as decisões são mais precisas e a mente encontra o estado ideal de presença e produtividade.
É sobre ciência, constância e autocuidado: pilares invisíveis de quem transforma o cansaço em clareza e o estresse em resultado.
* Ordânio Almeida é médico com atuação em Nutrologia, focado em nutrição clínica e estudo de qualidade de vida, membro da Brazil Health








