Pentágono reavalia e diz que ataques dos EUA atrasaram programa nuclear do Irã em até 2 anos
Nova estimativa contraria falas anteriores do presidente, que citou a "obliteração" das instalações

Camila Stucaluc
O Pentágono afirmou que o programa nuclear do Irã foi atrasado em até dois anos devido aos ataques norte-americanos contra as três usinas do país. A nova estimativa, revelada na quarta-feira (2), diverge do que é defendido por integrantes do alto escalão do governo, incluindo pelo presidente Donald Trump, que os locais foram obliterados — isto é, destruídos completamente.
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"Nós atrasamos o programa deles em um ou dois anos. Pelo menos avaliações de inteligência dentro do Departamento [de Defesa] indicam isso”, disse o porta-voz do Pentágono, Sean Parnell. “Vimos, entre nossos aliados, eles parabenizando os Estados Unidos, o presidente, por essa operação ousada e a ideia de que a ação americana no Irã estabeleceu as condições para a estabilidade global”, acrescentou.
A declaração de Parnell vai de encontro à avaliação do diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, que estima que o Irã poderá voltar a enriquecer urânio em “questão de meses”. Segundo ele, não há como confirmar a destruição das bases de Fordow, Isfahan e Natanz, sobretudo agora, já que o Irã suspendeu a cooperação com a agência – responsável por fiscalizar os programas nucleares.
"Para ser sincero, não dá para dizer que tudo desapareceu e que não há mais nada ali. A capacidade que eles [Irã] têm está lá. Eles podem ter – em questão de meses, eu diria – algumas cascatas de centrífugas em funcionamento e produzindo urânio enriquecido", disse Grossi, em entrevista à CBS.
Estoque suficiente para produzir 9 bombas
Oficialmente, o Irã havia declarado possuir cerca de 400 quilos de urânio enriquecido a 60% – nível considerado superior à demanda para fins civis, como gerar energia. Segundo a AIEA, caso esse percentual chegue a 90%, o país estaria apto a produzir mais de nove bombas nucleares.
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O governo iraniano nega estar desenvolvendo armas nucleares, e sustenta que seu programa tem fins pacíficos. Os ataques norte-americanos e israelenses da última semana, no entanto, fizeram Teerã suspender a cooperação com a AIEA, acabando com a transparência sobre o programa nuclear. "Não sabemos onde esse material poderia estar", disse Grossi, referindo-se aos estoques iranianos de urânio.