Pelo menos 135 corpos mutilados de palestinos devolvidos por Israel vieram de prisão que enfrenta acusações de tortura
Fontes de Gaza ouvidas pelo jornal britânico 'The Guardian' afirmam que todos os cadáveres vieram de Sde Teiman, campo de detenção em Negev

SBT News
Pelo menos 135 corpos mutilados de palestinos devolvidos por Israel ao Hamas eram de pessoas que foram mantidas numa famosa prisão israelense que enfrenta acusações de tortura e mortes ilegais sob custódia. A informação foi revelada por autoridades do Ministério da Saúde da Faixa de Gaza ao jornal britânico The Guardian.
O diretor-geral do Ministério da Saúde, Munir al-Bursh, e um porta-voz do Nasser em Khan Younis, onde os corpos estão sendo examinados, afirmaram que todos os corpos vieram de Sde Teiman, campo de detenção em Negev, deserto ao sul de Israel, conforme aponta um documento encontrado dentro de cada saco mortuário.
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Fotos e depoimentos publicados pelo Guardian em 2024 mostram que prisioneiros palestinos detidos no local foram mantidos em gaiolas, vedados e algemados, acorrentados a camas de hospital e forçados a usar fraldas.
"As etiquetas dos documentos dentro dos sacos para cadáveres estão escritas em hebraico e indicam claramente que os restos mortais foram mantidos em Sde Teiman", disse Bursh. "As etiquetas também mostram que testes de DNA foram realizados em alguns deles lá."
A entrega dos corpos é parte do acordo de paz firmado entre Israel e Hamas, anunciado em 10 de outubro. De lá para cá, o grupo palestino entregou os corpos de 14 dos reféns que morreram nos túneis de Gaza desde o início da guerra. Israel, por sua vez, devolveu os corpos de 150 palestinos mortos após o ataque de 7 de outubro de 2023.
Sinais de tortura
Algumas das fotos de corpos palestinos analisadas pelo Guardian — que não podem ser publicadas devido à sua natureza gráfica — mostram "várias" vítimas com os olhos vendados e as mãos amarradas atrás das costas. Uma imagem mostra uma corda amarrada no pescoço de um homem.
Médicos em Khan Younis afirmaram que exames oficiais e observações de campo "indicam claramente que Israel cometeu assassinatos, execuções sumárias e tortura sistemática contra muitos palestinos".
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Autoridades de saúde disseram que as descobertas documentadas incluíam "sinais claros de tiros diretos à queima-roupa e corpos esmagados sob rastros de tanques israelenses".
Eyad Barhoum, diretor administrativo do Hospital Nasser, afirmou que os corpos não tinham nomes, "apenas códigos", e que parte do processo de identificação havia começado. A identificação dos cadáveres não será a tarefa mais difícil, mas sim a apuração das circunstâncias das mortes.
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Ativistas de direitos humanos exigem uma investigação para descobrir se alguma das vítimas morreu em Sde Tieman e, em caso afirmativo, quantos. Médicos palestinos dizem que o fato de muitos corpos terem sido vendados e amarrados sugere que eles foram torturados e mortos durante sua detenção em Sde Teiman.
Um profissional da saúde que falou ao Guardian sob condição de anonimato afirmou que recebeu um prisioneiro de Sde Teiman que chegou vendado, algemado e nu, com um ferimento de bala no peito esquerdo. Outro paciente, com um ferimento de bala na perna direita, teria chegado ao hospital em condições semelhantes.
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Outro denunciante descreveu que alguns de seus pacientes haviam sido capturados pelo exército israelense enquanto estavam sendo tratados em hospitais de Gaza. Eles tinham membros e feridas infeccionadas e "gemiam de dor". A fonte alegou que os militares não tinham provas de que todos os detidos eram membros do Hamas, com alguns presos perguntando repetidamente por que estavam lá.
Contatadas pelo Guardian sobre as alegações de tortura, as Forças de Defesa de Israel informaram que solicitaram uma investigação ao Serviço Prisional de Israel (IPS), na sigla em inglês. O jornal também procurou o IPS, que não deu retorno até a publicação deste texto.