Governo dos Estados Unidos força Google a vender o Chrome
Departamento de Justiça exige a venda para acabar com monopólio e big tech aponta que pedido é “uma agenda intervencionista radical"
Cido Coelho
O governo dos Estados Unidos pediu a um juiz, na última quarta-feira (20), o desmonte do Google, exigindo a venda obrigatória do navegador Chrome, que domina o mercado de internet.
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O Departamento de Justiça (DoJ) considera a medida essencial, argumentando que o Chrome é um dos principais pontos de acesso do mecanismo de busca, prejudicando a visibilidade de concorrentes.
Segundo os dados do StatCounter, em outubro o Google acumulou 90% do mercado mundial de pesquisas online, contra 4% do Microsoft Bing, num distante segundo lugar, e 71% do mercado de smartphones, o que reforçando o argumento do governo norte-americano a configuração de um monopólio.
A decisão também visa proibir acordos que tornem o Google o mecanismo padrão em dispositivos móveis e impedir que a empresa explore o sistema Android para vantagens comerciais. Caso isso não resolva as questões de monopólio, o DoJ poderá exigir a venda do Android.
Essa ação marca uma mudança nas políticas antimonopólio dos EUA, similar à tentativa de desmantelar a Microsoft nos anos 2000. O julgamento do caso está previsto para 2025, e qualquer decisão poderá ser prorrogada até a Suprema Corte.
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O Google já anunciou que apresentará sua defesa em dezembro, com recomendações e argumentos que serão analisados pelo juiz federal Amit Mehta, em Washington.
Em agosto, Mehta havia considerado que a gigante tecnológica monopoliza o mercado de buscas online ao obter vantagens injustas, reforçando o argumento do Departamento de Justiça.
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Se a decisão do tribunal determinar o desmonte, será o maior desmembramento de uma empresa nos Estados Unidos desde o caso histórico da AT&T nos anos 1980.
A AT&T foi dividida em várias empresas regionais para promover maior competição no setor de telecomunicações, um caso que até hoje é referência em debates sobre práticas anticompetitivas.
Implicações e próximos passos
A audiência especial que definirá os rumos do processo está prevista para abril de 2024, com uma possível sentença esperada para agosto de 2025.
No entanto, especialistas apontam que, independentemente do veredito inicial, o caso poderá se estender por anos devido a apelações, prolongando a decisão até o tribunal supremo.
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Enquanto isso, a batalha legal contra o Google reacende o debate sobre o domínio das big techs e seu impacto sobre a concorrência, privacidade e inovação tecnológica.
O resultado do julgamento poderá definir não apenas o futuro da empresa, mas também estabelecer precedentes para a regulamentação de outras gigantes do setor.
"Invervenção radical"
O Google respondeu em seu blog oficial, "A palavra-chave" com um texto assinado pelo chefe jurídico da empresa, Kent Walker, dizendo que o pedido faz parte de “uma agenda intervencionista radical que pode prejudicar os americanos e a tecnologia global dos EUA”.
Além disso a nota argumenta qu a proposta "quebraria uma série de produtos do Google — até mesmo além da Busca — que as pessoas amam e acham úteis em suas vidas cotidianas." O advogado da big tech também afirma que a proposta ameaça a privacidade de milhões de norte-americanos, além de comprometer a qualidade dos produtos que "as pessoas amam". A empresa também reforçou que a medida prejudica a liderança do Google em inteligência artificial e vai "limitar deliberadamente a capacidade das pessoas de acessar a Pesquisa Google".