Agência especializada em games produz avatares para ajudar a encontrar desaparecidos
Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram que, por dia, 230 pessoas desaparecem no país
Passa tempo de uns, profissão para outros. O universo dos games atrai bilhões de pessoas em todo planeta. Só no Brasil, estima-se que sejam mais de 100 milhões de jogadores. Usar a popularidade dessas plataformas de diversão pode ser uma ferramenta para vencer uma luta da vida real. Uma agência especializada em comunicação e estratégia decidiu ajudar na localização de pessoas desaparecidas.
A ideia surgiu após o lançamento do jogo de exploração espacial "Star Field". Nele, é possível inserir qualquer rosto nos personagens. O plano, segundo o diretor de criação da agência, Rafael Hessel, foi usar imagens de pessoas desaparecidas. "A gente percebeu que os jogadores estavam criando personagens com rostos famosos. E a gente pensou: 'Esses rostos já estão em todos os lugares, por que a gente não traz aqueles rostos que precisam de mais visibilidade?'", conta.
A ONG "Mães da Sé" que há 28 anos se dedica à busca de pessoas desaparecidas, é parceira do projeto. Para a fundadora, Ivanise Esperidião, além de ajudar a localizar pessoas, a campanha levará informação a um público novo, os gamers. "Desaparecer não é crime, então o desaparecimento não é tratado como um problema de segurança pública. Os nosso filhos desaparecidos fazem parte apenas de uma estatística. Então, quanto mais pessoas tiverem acesso a essas imagens, maiores são as chances dessas pessoas serem identificadas."
Em 2022, 74.061 pessoas desapareceram no Brasil. Desse número, 84% foram encontradas. Em média, 15% simplesmente sumiram sem deixar pistas. Somente a ONG Mães da Sé tem registros de 6300 pessoas que ainda estão desaparecidas.
A aposta é que a exibição de fotos de desaparecidos nos games ajude a diminuir esse número. Uma estratégia é contar com a popularidade de streamers, influenciadores que transmitem e comentam jogos ao vivo. Milena "Menyeb" Bragatti tem mais de trinta mil seguidores e criou um avatar de uma pessoa desaparecida. "Essa plataforma dos jogos acaba sendo muito relevante. O jogo pega a gente em um vínculo mais pessoal, o nosso avatar nos representa, com o chat também. Isso traz uma relação mais pessoal pra quem está vendo e quem está jogando", conta.
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O avatar da Milena tem o rosto de Bruno Barbosa Gomes, desaparecido desde 2016, aos 24 anos. Com o projeto, a mãe, Rosiane Barbosa, renovou a esperança de encontrar o filho. "Eu acho ótima, foi muito bom porque não vai ajudar somente a mim, mas a muitas mães que lutam todos os dias desesperadamente, para obter uma resposta do seu filho."