Desinformação não é apenas um problema de conteúdo, diz fundador do jornal The Republic
Wale Lawal falou sobre o tema em entrevista ao SBT News no Global Media Congress 2023, em Abu Dhabi
Guilherme Resck
Fundador e editor-chefe do jornal The Republic -- descrito como uma nova publicação que explora e reescreve a história da Nigéria --, Wale Lawal disse nesta 4ª feira (15.nov), em entrevista ao SBT News no Global Media Congress 2023, em Abu Dhabi, que é um erro pensar que a desinformação é um problema somente de conteúdo.
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Lawal concedeu a entrevista após participar do painel de discussão "Desinformação: como permanecer no topo", no qual o SBT foi representado por seu gerente de integração e planejamento de jornalismo, Rodrigo Hornhardt.
"Penso que um equívoco que normalmente temos como pessoas que trabalham no espaço midiático é que a desinformação é apenas um problema de conteúdo, que é um problema que está enraizado no que está a ser dito ou no que está a ser escrito", pontuou o editor-chefe do The Republic. "Mas acho que o maior problema ou um problema tão grande quanto o do conteúdo é a distribuição. Portanto, a desinformação é um problema ou um desafio porque é muito difícil controlar ou prever de onde as pessoas obtêm a sua informação ou para onde vão os canais de informação".
Ele ressaltou que a rapidez com que as mentiras se espalham permite saber que, por algum motivo, "mentiras ou desinformação têm um caminho mais rápido para chegar ao público do que informações mais credíveis".
"E penso que uma das maneiras pelas quais podemos pensar sobre isso é quais são os canais que estas mensagens de desinformação ou mensagens que contêm desinformação estão a utilizar para atingir o público, e acredito que um erro que tendemos a cometer é pensar que só deveríamos estar nos concentrando em produção de mais verificações de fatos ou informações mais confiáveis, em vez de pensar também sobre onde está o público".
Lawal deu como exemplo o contexto africano; segundo ele, "muitas pessoas que consomem notícias no continente consomem através do WhatsApp". "O WhatsApp também é conhecido pela rapidez com que as mensagens transmitidas podem ser enviadas e, portanto, você tem empresas inovadoras ou ajudas de mídia inovadoras, por exemplo, que decidiram publicar exclusivamente na plataforma".
Ele prosseguiu: "E como eles alcançam seu público? Da mesma forma que você pode facilmente compartilhar e encaminhar uma mensagem sobre como um míssil que está errado sobre o território de um determinado país é como você também pode espalhar a verdade. Então, acho que muitas vezes quando pensamos em desinformação ou em corrigir a desinformação, pensamos que é tudo apenas fazer isso em nossas plataformas e esperar que os leitores venham até nós ou fazê-lo em uma linguagem muito técnica e esperando que os leitores entendam isso imediatamente".
Porém, pontuou Lawal, em sua visão, a desinformação circula porque, em primeiro lugar, está mais próxima do público e utiliza os canais em que este já está, e, em segundo lugar, usa uma linguagem muito fácil e muito acessível ao público. "E acho que o erro que tendemos a cometer ao publicar fontes ou informações confiáveis é presumirmos que os leitores virão até nós e também presumimos que comunicá-los em linguagem técnica, o que às vezes é muito importante para preservar a credibilidade disso, é a única maneira de fazer isso".
Ele continuou: "Mas acho que o que estamos aprendendo com as oportunidades que vemos em plataformas como o TikTok, no WhatsApp, é que existem maneiras pelas quais também podemos verificar informações confiáveis que chegariam diretamente ao público onde ele está".
Para o editor-chefe, uma das coisas que os meios de comunicação já são muito fazer em fazer é "produzir informação credível". "O problema ou a solução não consiste apenas em produzir informações mais confiáveis. Trata-se de levar essas informações confiáveis de forma mais rápida e imediata ao público. Acho que é aí que precisamos fazer muito mais trabalho".
Segundo ele, os profissionais da mídia já construíram capacidade e infraestruturas para produzir informação credível e para verificar informação. "Mas não creio que tenhamos feito o suficiente para realmente levar essa informação credível ao público onde quer que esteja e nas línguas ou no contexto que eles vão entender isso. Quer isso signifique criar desenhos animados a partir destas coisas. Quero dizer que há empresas na África Oriental, por exemplo, que decidiram criar locais de rádio como forma de atingir o público e nas áreas rurais", acrescentou.
Ainda de acordo com Lawal, "há algumas empresas que estão encenando até peças de teatro como forma de desmascarar alguns dos mitos e parte da desinformação que existe na mídia popular".
"E acho que precisamos pensar de forma tão objetiva quanto essas empresas. Entender onde está o público e, em seguida, pegar o conteúdo que já temos sido ótimos em construir e otimizá-lo para esses públicos. Então não acho que a solução seja necessariamente produzirmos mais conteúdo. Acho que já somos bons nisso e devemos continuar assim. Acho que precisamos fazer muito trabalho braçal para levar esse conteúdo ao público onde ele está. Está em distribuição".
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