Negros são principal alvo da polícia de São Paulo durante patrulhamentos
Levantamento comparou o tratamento penal dado às pessoas de diferentes raças presas por crimes envolvendo drogas
José Luiz Filho
Negros são o principal alvo da polícia de São Paulo em prisões durante patrulhamentos. Foi o que constatou uma pesquisa ao comparar o tratamento penal dado às pessoas de diferentes raças presas por crimes envolvendo drogas.
Em junho de 2018, o educador social Marcelo Dias foi preso durante uma abordagem policial, em frente à ONG fundada por ele, na zona sul de São Paulo. Os PMs o acusaram de fazer parte de uma quadrilha de traficantes, que faria a entrega de quase cinco quilos de pasta base cocaína, na mesma região.
"Eles estavam perseguindo dois adolescentes, dois rapazes, com uma sacola, essa sacola foi dispensada aqui na calçada, e aí eles queriam saber se eu sabia o que tinha na sacola. E aí eu falava que não sabia o que tinha na sacola e eles queriam de qualquer jeito saber", afirma Marcelo.
O educador ficou preso por seis meses, até conseguir um habeas corpus para responder em liberdade. Contra ele havia apenas o testemunho de dois policiais militares. No fim do processo, Marcelo foi inocentado por falta de provas.
"Sempre lutei pra fazer transformação social, pra que as crianças e adolescentes, pra que jovens e adolescentes atendidos na nossa organização estivessem fora e longe das drogas, e de repente eu me vejo nessa situação, sendo acusado por uma coisa que eu sempre lutei contra", diz.
O que aconteceu com o Marcelo está longe de ser uma exceção em São Paulo. É o que aponta um estudo feito pela ONG Iniciativa Negra, em parceria com Defensoria Pública do Estado, que traçou um paralelo entre a raça e o tratamento penal dado às pessoas presas por crimes envolvendo drogas. Os resultados mostram uma diferença nítida entre brancos e pretos, da abordagem policial ao julgamento pela Justiça.
O levantamento mapeou 114 processos. Em 58% deles, os presos eram jovens entre 18 e 21 anos. Metade não tinha antecedentes criminais e 54% se autodeclararam negros. Os pesquisadores constataram que brancos foram o principal alvo de operações após investigação, mas que negros correm mais risco de serem presos durante patrulhamento. O estudo revelou ainda que em 80% dos processos há relatos de agressões cometidas por PMs e que em quase 90% das prisões não havia testemunhas civis.