Transtorno Alimentar Seletivo: jovem não come há quase um ano. Entenda
Uma das características da condição é ter aversão sensorial a certos alimentos. Veja outros sintomas
A jovem galesa Macy Williams não come há quase um ano. Ela sofre de Transtorno Alimentar Seletivo (TAS), uma condição que se caracteriza por, dentre outras coisas, uma aversão sensorial a certos sabores, explica o psiquiatra Eduardo Brandão.
+ Picacismo: conheça distúrbio alimentar que faz menina de 3 anos comer sofá e parede
"É diferente da pessoa não gostar do alimento ou ser um pouquinho mais exigente. Ela tem uma aversão com o cheiro, a textura, com certos sabores e cores. Ela simplesmente odeia aquilo", explica Brandão
Em reportagem ao jornal inglês "The Sun", sua mãe, Terri, disse que a filha, devido à condição, tem sido alimentada exclusivamente por sonda desde o meio do ano passado.
+ Refrigerante diet pode aumentar risco de arritmia cardíaca; entenda a doença
"Durante anos ela foi considerada uma comedora exigente, mas sempre foi mais do que isso. Ela tinha ataques de pânico e começava a vomitar mesmo quando sentia cheiro de comida", conta
Antes disso, Macy passou 17 anos comendo apenas pepino, mingau e custard, uma mistura de creme e gema de ovo.
Segundo o especialista, a pessoa vai selecionar os alimentos em que ela "se sente segura" em consumir, por isso a dieta também é conhecida como restritiva. Muitas vezes as pessoas com esse diagnóstico acabam tendo uma dieta tão restrita, que pode afetar a absorção do corpo de certos nutrientes, minerais e proteínas.
A nutricionista Bianca Gonçales ressalta que é diferente da anorexia nervosa, por exemplo, onde a restrição alimentar é motivada por uma preocupação excessiva com o peso e a forma do corpo ou, até mesmo, de quem tem alergia a determinados alimentos, como intolerância à lactose e a frutos do mar.
+ Manifesto pede taxação de ultraprocessados igual ao tabaco. Entenda
O que causa?
Segundo Brandão, pode haver um componente genético, onde a pessoa detém uma hipersensibilidade pelo alimento ou grupo alimentar. No entanto, o mais frequente acontece pelo condicionamento, ou seja, enquanto a pessoa estava se alimentando, ocorreu algum tipo de evento aversivo que faça com que ela não coma mais aquilo.
"Por exemplo, pessoas que brigam muito nas refeições, o que pode tornar o ato de comer naquelas situações traumática. Eventos do tipo engasgar ao chupar uma laranja ou passar mal depois alguma coisa", explica
No caso de Macy, ela não chegou à origem exata dos sintomas e pode ser genético. "Foi um método de enfrentamento do bullying no ensino médio? Depressão? A falta de apoio? A verdade é que realmente não sei o que desencadeou isso. Agora sinto que não tenho mais alimentos seguros. Não consigo colocar nada na boca", explicou ao "The Sun".
Como diagnosticar o transtorno alimentar seletivo?
Um dos sintomas principais é ter um sentimento de angústia ao precisar ingerir alguns dos alimentos que estão na lista de restrição, aponta o especialista. Também há muitos sintomas físicos, como náusea, vômitos e sudorese.
"Os mesmos sintomas de medo, mesmo, de ter que comer alguns dos alimentos do grupo que a pessoa está restringindo", disse
Além disso, outros sinais de atenção são perda de peso significativa. Segundo Brandão, a análise do quadro sintomática precisa levar em consideração qual é o nível de prejuízo para a vida da pessoa.
"Se não tiver prejuízo, não é um transtorno. Para se ter o diagnóstico, precisa ter um prejuízo nutricional, social, no crescimento", explica
Como tratar?
O tratamento envolve a dessensibilização, ou seja, fazer uma exposição progressiva ao alimento ou grupo alimentar. É a chamada Terapia de Exposição. Segundo a definição do psiquiatra Joseph Wolpe, especialista no tema, o primeiro passo é fazer com o paciente uma lista das situações mais temidas e menos temidas. No caso do TAS, seriam os alimentos.
Bianca aponta que a dieta recomendada para pacientes com a condição geralmente envolve uma abordagem multidisciplinar, incluindo orientação nutricional e terapia comportamental.