Relacionamentos com inteligência artificial: risco ou alívio para a solidão?
Impacto da IA nas relações humanas pode ser benéfico ou prejudicial, dependendo do uso, da intenção, da frequência e do nível de controle; saiba mais

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O impacto da inteligência artificial nas relações humanas pode ser benéfico ou prejudicial, dependendo do uso, da intenção, da frequência e do nível de controle. A solidão e o isolamento social, frequentemente alimentados pelo excesso de conexão digital, estão aumentando, e a IA pode tanto intensificar quanto aliviar esse cenário.
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"A revolução digital transformou profundamente o cenário cognitivo", afirma o psicólogo Michael Scullin.
Embora a tecnologia possa enriquecer as relações humanas, ela não deveria substituí-las. Já existem relatos de pessoas que perderam o prazer em experiências reais devido à dependência das máquinas.
Possíveis benefícios da IA nos relacionamentos
- Acessibilidade a pessoas com fobia social ou dificuldades de locomoção;
- Conexão e entretenimento por meio de redes e fóruns;
- Aprendizado colaborativo em grupos virtuais;
- Apoio emocional por assistentes virtuais em momentos de crise.
A pandemia também evidenciou as vantagens do atendimento remoto: diminuição do deslocamento, maior acesso e redução de riscos.
Principais riscos do uso excessivo da IA
- Isolamento e perda da empatia;
- Vício e dificuldade de lidar com seres humanos;
- Redução cognitiva por dependência da IA;
- Eliminação de vínculos e prejuízo à saúde mental (como alerta o conceito de "demência digital").
A humanidade sempre precisou se adaptar a novas tecnologias. No entanto, o cérebro humano evolui lentamente – e não está preparado para tantas transformações em tão pouco tempo. O excesso de possibilidades gera ansiedade, insegurança e frustração, especialmente entre os mais jovens.
Os desafios das novas gerações e a neurobiologia dos vínculos
As gerações mais recentes enfrentam mais dificuldade em estabelecer vínculos afetivos e lidar com o tempo de espera. Isso tem transformado a maneira como nos relacionamos, inclusive afetivamente, com a própria IA.
Ainda desconhecemos por completo os efeitos dessas novas interações. É fundamental entender o que é saudável e terapêutico, e o que se mostra nocivo.
A neurobiologia das relações humanas revela que os laços afetivos se formam desde os primeiros anos de vida, a partir da interação de hormônios como dopamina e ocitocina. A qualidade desses vínculos influencia amizades, relacionamentos românticos e o bem-estar físico e mental.
Relações duradouras promovem saúde e proteção. Já o isolamento compromete o corpo e a mente – um padrão que se repete ao longo das gerações.
Plasticidade cerebral e novos modelos de relacionamento
O cérebro humano, entretanto, apresenta considerável plasticidade: vínculos positivos ao longo da vida podem reparar traumas e carências emocionais precoces. Somos capazes de manter conexões mesmo na ausência, por meio da memória, do simbolismo e da subjetividade.
A psicanálise contribui para a compreensão de como lidamos com relações interrompidas e frustrações. Ela aponta que cada indivíduo desenvolve mecanismos de defesa para se proteger da dor. Diante das novas relações virtuais, pode ser o momento de criarmos novos modelos de interação.
Como diz Ruth Feldman, para compreender o amor humano e os vínculos que promovem cura, é necessário unir ciência, filosofia e arte.
"O que cura é o contato afetivo de outra pessoa. O que cura é a alegria. O que cura é a falta de preconceito", disse Nise da Silveira.
*Genaldo Vargas é psicanalista e professor de Pós-graduação