Jovem desenvolve trombose cerebral após uso contínuo de anticoncepcional, dizem médicos
Sem fatores de risco, arquiteta teve quadro raro que reforça a importância da avaliação individual antes de iniciar o uso hormonal
SBT Brasil
Tontura, dores nas costas e no pescoço. Esses foram os primeiros sintomas que a arquiteta Ana Júlia Pires sentiu em 2021. Em poucos dias, ela precisou ser internada e recebeu o diagnóstico de trombose venosa cerebral. Segundo os médicos, o quadro foi associado ao uso contínuo de um anticoncepcional hormonal.
“A minha trombose foi praticamente em 70% ou 80% da minha cabeça. Eu tive, durante um tempo, paralisação do lado do corpo por conta da pressão”, conta Ana Júlia.
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A trombose ocorre quando se forma um coágulo que interrompe o fluxo normal do sangue. No caso de Ana Júlia, o problema atingiu as veias do cérebro. De acordo com especialistas, o uso de anticoncepcionais pode aumentar o risco desse tipo de complicação porque altera o equilíbrio da coagulação.
“Isso tem que ser dito para a paciente, mas ressaltando que o risco em pacientes jovens, sem outras doenças, sem hipertensão ou enxaqueca e que não é tabagista, é muito baixo. A trombose do seio venoso cerebral é rara, em média, são três casos a cada um milhão”, explicou a ginecologista Jaqueline Lubianca.
Ana Júlia não apresentava fatores de risco conhecidos. Os sintomas mais comuns da trombose venosa cerebral são dor de cabeça intensa e persistente, náusea, convulsões, alterações na visão, fraqueza em partes do corpo e confusão mental. Estes sinais exigem atendimento médico imediato.
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Apesar da raridade, os médicos alertam para a importância de que a escolha do método contraceptivo seja individualizada. Existem opções sem estrogênio, que não aumentam o risco de trombose. Por isso, é essencial conversar com o médico e realizar uma avaliação detalhada.
Segundo a arquiteta, nunca foi feito um exame para identificar se ela teria uma predisposição a ser trombofílica. A ginecologista Jaqueline Lubianca afirma que a única análise obrigatória da Organização Mundial da Saúde, antes de iniciar o uso de anticoncepcionais, é a medida da pressão arterial.
“Sabemos que a hipertensão é um fator de risco importante para doenças cardiovasculares. Podemos optar por métodos de longa duração, como dispositivos intrauterinos e o implante subdérmico, que devem ser disponibilizados pelo Ministério da Saúde nos próximos meses. Não há motivo para as mulheres ficarem preocupadas ou em pânico”, completou Lubianca.
Durante a recuperação, Ana Júlia precisou fazer fisioterapia para reverter as sequelas deixadas pela trombose. “Eu perdi a coordenação motora dos braços e fiquei com metade do corpo formigando. Tive estrabismo, que foi minha sequela mais longa. Fiquei seis meses em tratamento. Tive muita sorte de hoje não ter nenhuma sequela”, disse.