Frio e estresse derrubam a imunidade? Vitamina C e zinco evitam gripe? Veja mitos e verdades
Especialista destaca quais medidas são realmente eficazes para reforçar as defesas do corpo; saiba mais

Wagner Lauria Jr.
No inverno, as temperaturas mais baixas ou as oscilações muito grandes e o ar mais seco trazem consigo um aumento nos casos de gripes, resfriados e outras infecções respiratórias.
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Mas será que o frio, por si só, enfraquece o sistema imunológico? Existem medidas realmente eficazes para reforçar as defesas do corpo? O SBT News ouviu uma especialista em alergia e imunologia que explica os mitos e verdades sobre a imunidade e dá dicas práticas para se cuidar.
Frio derruba a imunidade?
Mito. O frio em si não afeta diretamente o sistema imunológico. O que acontece é que, durante os períodos de baixas temperaturas, as pessoas tendem a permanecer mais tempo em ambientes fechados e com pouca ventilação, o que facilita a circulação de vírus e bactérias, segundo a médica alergista e imunologista Brianna Nicoletti. Além disso, o ar frio e seco resseca a mucosa nasal, dificultando a ação das células de defesa locais.
"O risco de infecções aumenta, mas a imunidade em si não cai apenas por causa do frio", pontua.

Tomar vitamina C evita gripe?
Mito (com ressalvas). A vitamina C é importante para o bom funcionamento do sistema imunológico, mas não é uma "bala de prata" contra gripes e resfriados.
Segundo a especialista, apesar de não proteger contra as infecções, pode ajudar a reduzir a duração e a intensidade dos sintomas, se iniciada logo nos primeiros dias.
"O ideal é manter uma alimentação equilibrada, rica em frutas, legumes e verduras, que garantem não só a vitamina C, mas também outros nutrientes essenciais à imunidade", ressalta.

Estresse e noites mal dormidas baixam a imunidade?
Verdade. E o impacto pode ser profundo, de acordo a imunologista. No caso do estresse, entre os efeitos está o prejuízo na produção de anticorpos, causado pela liberação do cortisol. Já a privação do sono reduz a resposta de defesa a vacinas e aumenta a suscetibilidade a vírus respiratórios, como rinovírus
"Dormir bem, idealmente 7–9 horas por noite, e gerenciar o estresse com técnicas de relaxamento, psicoterapia, atividades prazerosas e apoio social são estratégias reais para fortalecer a imunidade", ressalta Brianna.

Probióticos ajudam a fortalecer a imunidade?
Verdade (em parte). Os probióticos, em geral, promovem o equilíbrio da microbiota, estimulam a produção de substâncias antimicrobianas naturais, ajudam na integridade da barreira intestinal e modulam a inflamação e a resposta imune.
"Estudos mostram que os Lactobacillus rhamnosus GG, por exemplo, previnem infecções respiratórias e o bifidobacterium lactis pode estimular imunoglobulina A", diz Nicoletti
Mas, segundo a especialista, isso depende de cada organismo e nem sempre tomar probiótico é necessário ou eficaz para todos.

Tomar suplemento de zinco previne gripes?
Verdade (em parte). O zinco é um mineral essencial para o funcionamento do sistema imunológico e pode ajudar a reduzir a duração e a gravidade dos sintomas de resfriados, mas não é garantia de prevenção.
"Em pessoas com deficiência, a suplementação pode ajudar. Mas, para quem já tem bons níveis, tomar mais do que o necessário não traz benefício extra e pode até causar efeitos adversos", pontua Brianna
A suplementação só deve ser feita com orientação médica, pois o excesso de zinco pode ser prejudicial. Segundo ela, a dose recomendada (ingestão diária segura):
- Adultos: cerca de 8 mg/dia para mulheres e 11 mg/dia para homens (não é recomendado o uso em crianças);
- Limite máximo tolerável: 40 mg/dia (exceto em tratamentos prescritos com doses maiores e por tempo controlado).
O uso excessivo de zinco pode causar náusea, vômitos, dor abdominal, diarreia e gosto metálico na boca.
Tomar "shots" de cúrcuma, gengibre e limão fortalece a imunidade?
Mito. Esses ingredientes possuem compostos antioxidantes e anti-inflamatórios, mas não há evidências científicas robustas de que "shots" diários tenham efeito direto no fortalecimento do sistema imunológico.
"Até podem ser usados como parte de um estilo de vida saudável, mas não devem criar a falsa sensação de proteção", diz Brianna.

Uso de roupas inadequadas no frio aumenta risco de pegar resfriado?
Mito. O resfriado comum é causado por vírus, não pela exposição ao frio em si.
No entanto, estar mal agasalhado pode baixar a temperatura corporal e, com isso, tornar as mucosas respiratórias mais vulneráveis à ação dos vírus já presentes no ambiente.
Lavagem nasal ajuda a prevenir infecções respiratórias?
Verdade. A higiene nasal com soro fisiológico ajuda a manter as vias aéreas limpas e hidratadas, facilitando a eliminação de vírus e partículas que possam causar infecções.
De acordo com Brianna, ele remove secreções, poluentes, vírus e alérgenos, hidrata a mucosa e favorece a ação do sistema mucociliar (barreira de defesa das vias aéreas), além de diminuir o risco de sinusites, resfriados e até crises de rinite.
"Estudos mostram que o uso regular em crianças reduz infecções respiratórias e melhora sintomas de rinite e tosse. Em adultos, é especialmente útil para quem vive em ambientes secos ou com ar-condicionado", afirma.

Outras dicas práticas para fortalecer a imunidade
- Alimentação balanceada: Inclua frutas cítricas, vegetais verdes-escuros, oleaginosas, grãos integrais e proteínas magras;
- Hidratação constante: O frio reduz a sensação de sede, mas o corpo continua precisando de água para manter as mucosas hidratadas e funcionar bem;
- Atividade física regular: Exercícios moderados ajudam a ativar as células de defesa;
- Higiene e ventilação: Lave as mãos com frequência e mantenha os ambientes arejados, mesmo nos dias frios;
- Evite o tabagismo e o consumo excessivo de álcool: Ambos prejudicam a resposta imunológica.