Enjoo em viagens não é labirintite: Entenda causas e como aliviar
Muitas pessoas passam mal ao se mover em carro, avião ou barco; entenda quando procurar ajuda, quem tem mais risco e formas de tratamento


Brazil Health
O movimento durante viagens de carro, avião ou barco pode desencadear uma condição complexa chamada cinetose. Longe de ser um simples desconforto, o distúrbio resulta de um conflito sensorial entre o que os olhos percebem e o que o sistema de equilíbrio, localizado no ouvido interno, detecta. Trata-se de um problema comum, que pode afetar até jogadores de videogame expostos a estímulos visuais. É uma daquelas condições que, quando não é corretamente diagnosticada, recebe o nome (equivocado) de labirintite, já que diferentes doenças do labirinto provocam tontura e mal-estar.
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Sinais, riscos e quem é mais afetado
Os sintomas da cinetose variam de pessoa para pessoa. Entre os mais frequentes estão náuseas, tontura, enjoo, dor de cabeça, palpitações e sudorese intensa. Embora possa acometer qualquer indivíduo, é mais comum em mulheres, pessoas propensas a enxaquecas e, principalmente, crianças. Na maioria dos casos, a cinetose não é grave, representando mais um incômodo do que um risco à saúde. No entanto, em situações mais intensas, pode causar desidratação, queda da pressão arterial e desequilíbrio. Em alguns casos, a condição pode estar associada a doenças otoneurológicas ou à enxaqueca.
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Nem todo mal-estar é labirintite
As doenças do labirinto — estrutura do ouvido interno relacionada à nossa audição e ao nosso equilíbrio — caracterizam-se por sintomas auditivos (zumbido e perda de audição) e por tontura e/ou vertigem. Há muitas doenças labirínticas diferentes. A labirintite verdadeira é uma delas e caracteriza-se por inflamação do labirinto; quando há infecção, o paciente pode apresentar vertigem intensa, zumbido e surdez. Pessoas com suposta labirintite têm, quase sempre, alguma outra condição labiríntica.
Aqui, vale um alerta: uma crise de tontura ou vertigem pode indicar uma doença grave, como a labirintite verdadeira, e até doenças neurológicas, incluindo o AVC. Por isso, recomenda-se buscar um pronto-socorro diante do primeiro episódio de sintomas labirínticos ou de qualquer suspeita. Nos casos recorrentes, a orientação é procurar avaliação de um médico de confiança.
Tratamentos e como aliviar os sintomas
O tratamento das doenças do labirinto depende da causa do problema, mas, de modo geral, envolve o uso de medicamentos que ajudam a aliviar os sintomas e a restaurar o equilíbrio do paciente. Entre as opções terapêuticas mais comuns estão os vasodilatadores, que facilitam a circulação sanguínea e melhoram o calibre dos vasos, muitas vezes reduzido pela presença de placas de gordura (ateromas). Também podem ser prescritos os chamados supressores labirínticos, que agem no sistema nervoso para reduzir a tontura e a vertigem. Em alguns casos, utilizam-se anticonvulsivantes e antidepressivos — especialmente os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS).
No caso da cinetose, não há cura definitiva, mas é possível controlar os sintomas. O tratamento envolve várias alternativas, como medicamentos, mudanças de hábitos e reabilitação vestibular. Médicos otorrinolaringologistas, em particular os otoneurologistas, podem ajudar a diagnosticar e tratar esse problema. A boa notícia é que, muitas vezes, os sintomas tendem a diminuir com o passar dos anos.
*Márcio Salmito é otorrinolaringologista, especialista em Otoneurologia, mestre e doutor, membro da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial).








