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Saúde

Câncer no cérebro: como tecnologias inovadoras podem mudar a realidade dos pacientes?

Avanços em técnicas cirúrgicas e novos métodos intraoperatórios oferecem esperança no combate aos tumores cerebrais agressivos

Imagem da noticia Câncer no cérebro: como tecnologias inovadoras podem mudar a realidade dos pacientes?
Tratamento de câncer no cérebro evoluiu com tecnologias inovadoras | Freepik
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A neurocirurgia para tumores cerebrais, especialmente glioblastomas (um dos tipos mais agressivos), enfrenta um desafio crítico: remover completamente células cancerosas sem prejudicar o funcionamento das estruturas do cérebro. Hoje, técnicas como imagem fluorescente para remoção tumoral guiada e terapias intraoperatórias localizadas estão revolucionando esse campo.

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Alguns dos tumores cerebrais possuem uma similaridade no aspecto visual quando comparados ao cérebro normal, e mesmo um cirurgião experiente utilizando um microscópio cirúrgico moderno por vezes pode não identificar áreas de câncer em meio ao tecido cerebral. Considerando que, nos casos de tumores mais agressivos, o tamanho do resíduo do tumor faz com que ele possa voltar a crescer de forma precoce e acelerada, a aplicação de substâncias fluorescentes pode funcionar como um marcador em áreas de tumor e auxiliar o neurocirurgião a encontrá-las e removê-las por completo.

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O ácido 5-aminolevulínico (5-ALA) é uma substância administrada ao paciente antes da cirurgia e é absorvida preferencialmente pelas células tumorais. Sob luz azul especializada durante a operação, essas células brilham em tons de rosa fluorescente, permitindo ao cirurgião identificar margens tumorais com precisão microscópica. Outra substância chamada fluoresceína atua de forma similar em algumas áreas onde há destruição do cérebro normal pelo tumor. Estudos demonstram que essa técnica aumenta as taxas de ressecção total (remoção completa do tumor) em até 65%, comparada à cirurgia convencional.

Tratamentos aplicados durante a cirurgia

Mesmo com a remoção completa do tumor, para alguns subtipos como os glioblastomas, a taxa de retorno e crescimento é muito elevada. O tratamento convencional envolve o uso de quimioterapia oral ou venosa, e radioterapia. Para tentar melhorar os resultados e manter o câncer sob controle, alguns estudos têm avaliado a possibilidade de, já na cirurgia, após a remoção do tumor, aplicar implantes biodegradáveis contendo agentes quimioterápicos (como wafers de carmustina) na cavidade onde o tumor estava. Esses dispositivos liberam medicamentos gradualmente por semanas, agindo diretamente no local onde células cancerosas residuais poderiam se proliferar. Outra estratégia é a radioterapia intraoperatória, que aplica doses focais de radiação durante a cirurgia para eliminar micro resíduos tumorais. Estas estratégias são bem conhecidas para cirurgias oncológicas em outras partes do corpo, mas no campo dos tumores cerebrais ainda apresentam resultados incertos. Alguns estudos mais promissores mostram uma melhora no tempo de sobrevida dos pacientes, mas ainda de forma incipiente para sua aplicação prática.

Apesar dos benefícios, esses métodos exigem infraestrutura especializada (como microscópios robotizados com filtros de luz especiais) e equipes treinadas para interpretação da fluorescência, com um custo elevado de implantação. No Brasil, centros especializados do SUS e privados já contam com algumas dessas tecnologias. Em relação à aplicação de terapias intraoperatórias como os wafers e a radioterapia, ainda estão em estudo, e atualmente no Brasil, são aplicadas apenas como parte de protocolos de pesquisa ou em uso off-label.

Tecnologia, personalização e o futuro do cuidado neuro-oncológico

O futuro do tratamento neuro-oncológico guarda diversos caminhos promissores. O avanço das técnicas de anatomia patológica e biomarcadores permite identificar uma assinatura mais precisa do tumor, aumentando a possibilidade de tratamentos individualizados, para uma medicina de precisão. O uso pré e intraoperatório de técnicas de mapeamento cerebral tem permitido um melhor resultado na preservação da função neurológica e, consequentemente, melhoria no tempo e qualidade de vida desses pacientes.

Pesquisas exploram combinações ainda mais inovadoras: nanopartículas carregadas com quimioterápicos ativadas por luz (terapia fotodinâmica) e sistemas robóticos integrados à fluorescência para cortes automatizados milimétricos. Em paralelo a isso, além das inovações, investimentos públicos e privados são essenciais para democratizar tecnologias já consagradas internacionalmente, permitindo maior acesso às técnicas que já estão disponíveis, porém ainda em poucos centros.

Com tantos avanços e a velocidade no progresso das inovações e técnicas, para pacientes diagnosticados com algum tipo de tumor cerebral, é essencial a busca por uma equipe multidisciplinar que conte com neurocirurgiões especializados no tratamento de doenças neuro-oncológicas, além de neuro-oncologistas e radioterapeutas especializados, garantindo que o melhor tratamento disponível seja sempre considerado.

*Cesar Cimonari de Almeida é neurocirurgião credenciado pelo CRM 150620-SP / RQE 66640

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