Conversa entre Xi Jinping e Putin levanta debate: é possível viver até os 150 anos?
Especialistas afirmam que transplantes não garantem vida acima dos 100 anos e ressaltam riscos e limites do corpo humano
Guilherme Rockett
Uma conversa gravada entre o presidente chinês Xi Jinping e o presidente russo Vladimir Putin, na semana passada, levantou uma discussão sobre longevidade. O SBT Brasil procurou especialistas para saber se é possível viver mais recebendo transplantes sucessivos de órgãos.
Segundo Xi Jinping, as previsões indicam que será possível viver até os 150 anos ainda neste século. Mas, será que isso é possível?
Pelo olhar da ciência, não é tão simples. Uma cirurgia de transplante traz riscos. A pessoa transplantada precisa tomar medicamentos para o resto da vida e ainda pode enfrentar casos de rejeição do órgão doado.
+ Uso indiscriminado de 'tadalafila' pode causar AVC e dependência psicológica, alerta Anvisa
A cardiologista Nadine Clausell, professora do Programa de Transplantes do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, explica que o processo exige muitos cuidados.
"Eu costumo dizer que o primeiro ano pós-transplante é um ano muito delicado, com muitos exames e retornos ao hospital para que o organismo se adapte aos medicamentos. Isso é necessário para evitar rejeições e infecções. Então, não é nada parecido com uma cirurgia convencional", explica.
+ Vacinação em dia contra gripe e Covid-19 diminui em até 40% o risco de infarto e AVC
Ela destaca que transplantes não costumam ser indicados para pacientes com mais de 70 anos e que trocar órgãos não significa, necessariamente, aumentar a longevidade.
"O resultado não vai ser o mesmo porque o organismo já tem seu envelhecimento natural. É preciso definir quem pode realmente se beneficiar para ter uma vida boa por mais 10 ou 15 anos em média. Mas transplantes não fazem as pessoas viverem mais de 100 anos."
O diretor do Centro de Transplantes da Santa Casa de Porto Alegre, José Camargo, reforça que a medicina já aumentou a expectativa de vida, mas lembra que o corpo humano tem limites.
"Quando as pessoas ambicionam chegar aos 100 anos estão ignorando que não temos órgãos programados para isso. Olhos, ouvidos, ossos e articulações não foram feitos para durar tanto. Além disso, quando a cognição diminui, dificilmente alguém terá ânimo para ficar trocando órgãos", diz.
Atualmente, transplantes com órgãos cultivados em porcos geneticamente modificados já beneficiaram dois pacientes, mas ainda estão em fase experimental. Embora essa técnica possa representar um atalho para aumentar o tempo de vida, os médicos reforçam que o caminho recomendado continua sendo o mesmo: cuidados com a saúde para garantir qualidade de vida.