“Viagem não foi proposital”, afirma defesa de Anderson Torres no julgamento sobre atos golpistas
Advogado afirma que ida do ex-ministro da Justiça aos EUA já estava programada desde novembro de 2022
Sthefanny Loredo
A defesa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres afirmou nesta segunda-feira (2), durante julgamento sobre a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus, por tentativa de golpe de Estado em 2022, que a viagem realizada por ele aos Estados Unidos, no dia dos ataques de 8 de janeiro, não foi proposital.
Segundo o advogado Eumar Roberto Novacki, a passagem foi comprada em novembro de 2022 para um período de férias com a família e afirmou que há um documento que comprove a compra. Ele sustentou que a tentativa de vincular o deslocamento a uma fuga seria uma “tentativa de levar os julgadores ao erro”.
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O advogado tentou apresentar no telão documentos que comprovariam a antecipação da viagem. No entanto, a Procuradoria-Geral da República (PGR) contestou essa versão, afirmando que há um documento da companhia aérea Gol indicando que o código apresentado pela defesa não corresponde a uma reserva válida, ou seja, o veracidade do bilhete não pode ser confirmada.
Ainda durante a sustentação, Novacki tentou apresentar um áudio como prova de defesa, mas foi interrompido pelo ministro Alexandre de Moraes, que alegou que o material não estava previamente autorizado.
Minuta e ausência de provas
A defesa rebateu o principal ponto da denúncia: a minuta encontrada na casa do ex-ministro. Segundo Novacki, trata-se de uma “minuta apócrifa, que não fazia qualquer sentido jurídico” e que “já circulava na internet antes de ser localizada”. A perícia realizada pela Polícia Federal não identificou impressões digitais de Torres no documento. “Não há como se sustentar uma acusação com base em ilações e sem uma prova concreta”, afirmou o advogado.
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Live, reuniões e PRF
Outro ponto abordado foi a participação de Torres em uma live, apontada como instrumento de disseminação de fake news. A defesa citou laudo técnico da Polícia Federal, que concluiu que o ex-ministro apenas leu trechos de um relatório técnico, sem emitir opinião pessoal. “A manifestação possui natureza técnica, não opinativa”, afirmou o defensor.
E Sobre reuniões ministeriais, especialmente uma de julho de 2022, a defesa negou que tenham tratado de qualquer pauta antidemocrática. Também debateu a acusação de uso indevido da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para dificultar o acesso de eleitores no segundo turno, afirmando que não houve qualquer ação de interferência por parte de Torres.
Conduta diante dos atos e pedido de absolvição
Novacki também destacou que, segundo a defesa, Anderson Torres tomou providências para desmobilizar os acampamentos bolsonaristas em frente aos quartéis e foi tranquilizado por seus subordinados de que a manifestação do dia 8 de janeiro seria pacífica. Após a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, o então ex-ministro se manifestou pelo Twitter condenando os atos.
O advogado de Anderson Torres foi o último a apresentar a defesa entre os acusados ouvidos na sessão desta segunda-feira (2). Na próxima quarta-feira (4), o Supremo Tribunal Federal dará continuidade ao julgamento e ouvirá as defesas de:
- Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
- Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
- Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e ex-candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro.